Magnífica

Era noite. Caminhava descalça pelas ruas, e a brisa nostálgica da lua carregava consigo uma névoa branca, dolorosa, que infiltrava seu peito como lança, a penetrar-lhe a alma. Era uma lua toda cheia, toda arredondada, toda miserável. Se deparava apenas com seus remorsos. Usava um jeans velho, desbotado, uma blusa de alças e a carteira de cigarros a pender do bolso. Seus olhos vertiam caldas de sangue. Não encontrava ninguém, nem o entregador de jornal, nem o quitandeiro, nem a negra do candomblé. Logo agora que precisava tanto falar. Suas unhas não eram pintadas, nem seus olhos bordados, nem sua boca carnuda. Não era nada. Era apenas simples assim. Era apenas a mais magnífica das criaturas.