Fantasiado de Herói

Fantasiado de Herói

A fantasia de homem aranha não estava lhe deixando a vontade.

Culpava-se por isso, porque deixara para última hora a escolha do que seria a fantasia para a festa de começo do ano no colégio do filho.

-Mãe, papai já escolheu a dele!

Essa era a pergunta que desde dezembro, final das atividades escolares, ele vinha ouvindo da boca de seu rebento ansioso, com quatro anos de idade.

O colégio do filho, tradicional na cidade, costumava iniciar o ano letivo com uma festa de confraternização para pais e alunos.

Neste ano em particular, sob o slogan “O Brasil precisa de Heróis”, resolveu estimular a comunidade de alunos e protetores, conscientizando-os da necessidade de se enfrentar desafios. A coisa era séria.

A mãe, mesmo antes do término das festas de final de ano já escolhera a Mulher Maravilha para representá-la e a fantasia vestiu-lhe o corpo como uma luva. Uma gracinha.

No Colégio, havia uma comissão de aprovação das fantasias sugeridas, primeiro para que não houvesse repetições exageradas; segundo para que não aparecessem fantasias esquisitas.

Até agora, apenas uma fantasia havia sido censurada.

Um dos pais propôs fantasiar-se de Lula Marinha. Um ser de cabeça grande gelatinosa, de bigode e barba,cheia de tentáculos, e uma capa vermelha onde se lia atrás e na parte superior a frase “Tubarão é irmão”. Mais abaixo complementava “Sou, mas quem não é”.

O Colégio reprovou. Se não bastasse, ainda indeferiu o pedido de matrícula de seu rebento.

Porém, fazer o que! Quanto a fantasia de Homem aranha, precisou ser adaptada uma vez que não existia à disposição nessas casas de aluguel, nenhuma que coubesse um super-herói pesando aproximadamente cento e vinte quilos.

Solução! Adaptação da vestimenta de Papai Noel. Calças vermelhas, aquela bota preta de fazer faxina em casa, um óculos de soldador por cima da meia calça fina da mulher, cortada na metade, enfiada na cabeça.

Uma tarrafa pequena de pesca era o complemento que lhe enfiaram pelas mãos.

O filho quando viu aquilo achou muito engraçado e morreu de rir.

-Papai parece um ser de um planeta desconhecido, não é mamãe!

-Um planeta Brasil, pensou a mãe: Grande, vermelho na vestimenta, com os pés em botas de faxina, e representado por alguém que deixa tudo para a última hora.

Claro que não falou para o filhinho porque ele não iria entender. E nem pensar, por óbvio, em comentar com o marido.

A festa estava para começar quando encaminharam para sentar ao lado do Homem Aranha alguém fantasiado de Presidenta de Clube, que carregava na mão um spray de veneno e nos lábios um sorriso sarcástico.

Por óbvio o Homem Aranha não gostou.

E até hoje, depois das solenidades festeiras, nas rodinhas de conversa, se questiona se o Clube da Presidenta era um clube de futebol,um clube de sinuca, um clube carnavalesco, algum clube social ou até mesmo um clube qualquer de muitos cafajestes.

Haja herói!

Piloto
Enviado por Piloto em 11/01/2012
Reeditado em 12/01/2012
Código do texto: T3434074