TRAQUINAGENS PERIGOSAS

TRAQUINAGENS PERIGOSAS...

Eu estava com mais ou menos 6 anos de idade, na época em que meu

pai era gerente industrial do Lanifício Santa Branca, e nossa casa tinha entrada direta para a fábrica. Aproveitando a hora de almoço da turma, eu e Elizena, filha da Firmina, ajudante de cozinha da minha mãe, que dava pensão para pelo menos 100 operários da tecelagem – entramos sorrateiramente no salão onde as peças de casimira, após saírem da tecelagem, eram lavadas numa balsa e passadas a vapor pela calandra que tinha dois enormes cilindros de aço maciço, pesando aproximadamente 600 quilos cada um, rodando um em sentido contrário ao outro, para a casimira passar por entre eles – Luizinho, o contador da empresa, perdera quatro dedos da mão direita, nessa máquina, ao tentar tirar um fio que estava preso ao tecido e teve que puxar a mão para não perdê-la toda - veja a que perigos estávamos nós ali expostas.

Quando as peças já estavam limpas e dobradas, eram colocadas em um elevador – esses antigos, de porta de ferro que se abrem e fecham feito sanfona – e subiam para a sala de pano, onde as marcadeiras, pinçadeiras e cerzideiras, cuidavam de deixá-las impecáveis para serem comercializadas.

Chegamos no salão e minha amiga entrou no poço do elevador, que estava parado no andar de cima; para assustá-la, eu fechei a porta que se travou automaticamente, e de repente percebemos a loucura daquilo tudo, pois, se por acaso eu tivesse apertado o botão, tentando destravar a porta, e o elevador fosse acionado, minha amiga teria sido literalmente esmagada.

Sai gritando pelo seu Emílio, o porteiro – aliás, pai do Luizinho – que veio correndo para ver o que estava acontecendo, e quando viu a menina presa no poço do elevador, ficou apavorado. Pediu que nem eu e nem ela fizéssemos um movimento sequer, que ele iria desligar a força; para retirá-la, usou um pedaço de madeira, puxando a trava para fora do caixilho – a sorte foi o braço dele ter passado por entre as ferragens da porta.

Só não apanhei do meu pai porque ele era muito calmo, e não contou para mamão do nosso “apronto”, que se soubesse, me dava uma surra de cabo de vassoura. Mas não adiantava de nada as suas proibições, pois a um simples piscar de olhos, lá estava eu, fazendo minas incursões pela fábrica, me expondo a mil perigos. Aprontei muitas outras nessa tecelagem...

Bem, outro dia conto mais.

Mírian Warttusch

MWarttusch
Enviado por MWarttusch em 12/01/2012
Código do texto: T3437648