ALGUNS FATOS SOBRE MEU PAI

Ernani Maller

Chamava-se Aristídes da Silva Carvalho, nasceu no Rio de Janeiro, porém, aos oito anos, por volta de 1927, mudou-se com a família para a cidade de Belo Horizonte, onde viveu a fase da sua vida que chamamos hoje de adolescência, já que na época o próprio conceito de infância ainda era recente. Por dez anos meu pai viveu em BH, onde parece ter tido uma infância bastate tranquila, logo após completar dezoito anos apareceu em sua casa um certo João Merino, filho de uns amigos de meu avô, que moravam no Rio de Janeiro. João Merino dizia que a situação no Rio era muito boa e que lá meu pai teria boas oportunidades de um bom emprego. Contra a vontade da família acabou partindo para o Rio com o novo conhecido.

Como é fácil de se prever, nesses casos, a coisa não era como falou João Merino, em cuja casa meu pai ficou por três meses, entretanto, a dificuldade de encontrar emprego foi criando uma situação de constrangimento. Até que meu pai resolveu deixar a casa e viver na rua, já que, também, tinha vergonha de voltar à Belo Horizonte, e dar o braço a torcer, de que a família tinha razão ao ser contra sua ida para o Rio de janeiro.

Meu pai viveu inúmeras experiências, já que estava sozinho no mundo. Foi malandro da Lapa, conviveu com Miguelzinho Camisa Preta, capoeirista, considerado o maior malandro do Rio de Janeiro, com quem dividia um apartamento, mas teve também a oportunidade de aprender uma profissão, foi ser ajudante de vidraceiro e logo se tornou profissional.

Vinte anos se passaram, período em meu pai não deu e nem recebeu notícias da família, até que na casa de meus avós, em Belo Horizonte, apareceu um jornal com a notícia de que um certo Aristídes da Silva Carvalho, alguém com mesmo nome de meu pai, havia caido de um caminhão e morrido, na cidade do Rio de Janeiro. Imediatamente minha tia, a mais velhas das mulheres, um ano mais jovem que meu pai, partiu para o Rio, e na casa de João Marino, obteve a notícia de que meu pai estava morando em Petrópolis. Partindo para lá consegui encontra-lo, pois havia ido à Petrópolis para fazer a clarabóia (um teto de vidro) do forum local, acabou se radicando ali.

Bem, minha tia convenceu meu pai a ir à Belo Horizonte, onde foi recebido com muita alegria, podendo conhecer, assim, seus dois irmãos mais novos, já com dezoito e dezenove anos. Tempos depois volta à Petrópolis onde conheceu minha mãe, com quem teve três filhos, Marcelo, Adalton e Ernani (eu), cujos nomes, segundo ele, foram escolhido para que as iniciais formassem a palavra mãe. Embora por algumas vezes tenha deixado escapar que Adalton e Ernani era nome de dois grandes jóqueis. Como meu pai preservou o vício das corridas de cavalo até o fim da vida, eu nunca soube ao certo se a homenagem foi à minha mãe ou aos jóqueis, mas tudo bem.