" MINHA MÃE DANÇOU COM TARCÍSIO MEIRA!"

“MINHA MÃE DANÇOU COM O TARCÍSIO MEIRA!"

Corria a emblemática década de cinquenta com seus bailes em profusão, sonhos povoando musicais redondilhas, amores rodopiando ao ritmo frenético das saias rodadas...

Como a maioria dos jovens interioranos, os são-carlenses tinham por hábito visitar as cidades próximas, com o fito de travar novas amizades, descobrir outras realidades e também tentar encontrar além das divisas do seu município um amor plangente e delicado...

Em uma destas ocasiões minha mãe Yvonne decide rumar à vizinha Brotas em companhia de seu belo e garboso irmão Sérgio, o qual na época dos fatos já estava namorando uma linda, meiga, e graciosa brotense, a inesquecível “blonde” Dayse Piva...

Os ventos pareciam cantar em uníssono a magia daquele singular baile a ser realizado nos festejados salões do clube da pacata Brotas...

Ao ritmo dos primeiros acordes de “Besame Mucho” o enamorado casal Sérgio e Dayse parecia estar flanando pelos céus, enquanto seus cintilantes olhos bailavam inebriados pelas doces escalas das canções de amor...

Enquanto isso, minha mãe Yvonne olha em torno... De repente o verde bandeira de seu fascinante olhar mira a proeminente figura masculina ao lado... Cabelos negros, luzidios, tez bronzeada, corpo atlético, melodiosa voz a traduzir seu perene charme...

Era ele! O galã das sentimentais e incipientes telenovelas, o rapaz que trabalhava como escrevente de sala no foro Central da Capital paulista, a perfeita personificação do dourado desejo feminil...

As músicas se sucedem... Mamãe e Tarcísio Meira arrancam suspiros de admiração e inveja do mulheril assanhado... Enlaçadas pelas fortes mãos do ator as lembranças vencem o implacável redemoinho do tempo...

Mais de cinquenta anos se passaram... Meu tio Sérgio Ferraz Rocha, já de saudosa memória vivenciou por mais de meio século o sublime enlevo concretizado no amor verdadeiramente consentido por sua adorada Dayse Piva Rocha...

Minha mãe Yvonne casou-se também com um formoso mancebo, moreno, de boa compleição física, dotado por uma alma serena e sensível, e intelecto prodigioso...

Seus ancestrais tinham atravessado o Atlântico, cruzado a Europa e chegado ao Brasil da velha Espanha... E em terras paulistanas, solidificou-se então o idílio entre meus pais Yvonne e Ramon...

Vencendo as limitações da saudade de quando em quando ao assistir às novelas protagonizadas por Tarcísio Meira pareço ouvir a voz de meu pai Ramon Garcia ( “ in memoriam”) imitando mamãe em tom de terna galhofa:

_ Ai,ai eu dancei com Tarcísio Meira!

Ivone Maria Rocha Garcia
Enviado por Ivone Maria Rocha Garcia em 13/01/2012
Reeditado em 06/01/2017
Código do texto: T3437767
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