“ANOS DOURADOS”

“A juventude é uma idade horrível que apreciamos apenas no momento em que sentimos saudade dela (A. Amurri).

Naquele tempo, na minha casa, sempre havia comida farta. Todavia, minha mãe não tolerava desperdícios. Dizia ela: que o pão era sagrado, não podia ser jogado fora, pois foi abençoado pelo próprio Deus. O horário das refeições tinha que ser cumprido à risca, se um de seus filhos chegasse depois do horário, seu prato era feito e colocado no forno. Caso passasse alguém pedindo esmola, o alimento guardado era ofertado para o pedinte.

Assim, todos nós procurávamos chegar no horário para não correr o risco de ficar sem comida. Mamãe gostava de silêncio nas horas da refeição. Dizia ela que a Mãe de Deus estava presente ali, naquela hora. Portanto, era considerado por ela e também por nós, como sendo um momento de oração e de muito respeito.

Aos domingos, costumávamos a ir à missa no período da manhã. Faltar, só em caso de doença. Meu pai apesar de não ir, apoiava minha mãe, éramos então, impelidos a freqüentar a igreja sem reclamar. Na verdade, gostávamos daquela atividade. À tarde voltávamos ao pátio da paróquia para o catecismo religioso e também para assistir ao “cineminha”. O catecismo era o ingresso obrigatório imposto pela igreja, para tão esperada sessão de cinema. Filmes americanos velhos, passados pelo sacristão, na tela do salão paroquial.

Uma vez por ano, no mesmo palco eram realizados os festivais, com representações teatrais e musicais. O elenco preferencialmente formado pelos próprios paroquianos, com a participação ativa do vigário. A gente viajava, sonhando com aquele mundo de fantasia que nos era apresentado. Muitos, como eu, não tinha talento e ficava na platéia simplesmente aplaudindo.

Todo esse breve tempo foi muito intenso, recheado de momentos alegres e tristes. Sinto-me um privilegiado por ter tido uma juventude tão rica. Muito embora, não havia ainda, televisão, automóvel nacional e calças “Jeans”. A propósito, nossas roupas eram feitas na máquina de costura “Singer”, por nossa mãe, a partir de tecido aproveitado de roupas usadas de nosso pai. Enfim, anos dourados que não voltarão jamais, mas que estão registrados na consciência de todos nós.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 13/01/2012
Reeditado em 20/02/2012
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