Correntes de ar

Pra falar a verdade eu não gosto das derrotas. Nunca lidei bem com o fracasso. Muito menos com a perda. E que ser humano ousa dizer o contrário? Não muitos. Mas boa parte dá a volta por cima, graças a Deus. Eu deixo as voltas pra depois. Me demoro no desconforto, na culpa, nas acusações. Me acuso de insolente, indolente, demente. E assim me torno descrente. Permanente. Mas tudo bem, vou seguindo assim. De vez em quando faço as pazes comigo mesma. E aí o vento fecha uma nova porta. Muitos dizem: - mas abre várias janelas! E eu digo que custo a enxergá-las. Não sei, a porta estava logo ali e sumiu. As janelas são tão diminutas, pequenos frestas que liberam correntes de ar. Mas eu cavo um buraco, na parede mesmo. Aumento a passagem, o que torna o caminho mais dificultoso do que poderia ser. Enfim, chego ao outro cômodo. Maior, espaçoso, cômodo. E desta vez não há vento. Só trincos na porta. Cadeados, pra ser mais exata. Fico cara a cara com a derrota novamente. Velha conhecida. E a minha força não é bastante para destruir as trancas. Não há chave, tampouco, que lhes caiba. Então eu sento, clamando por silenciosa salvação. O quarto escurece. As paredes brancas se tornam pretas. Justo eu, que quebrei muros lá trás, mereço a prisão? Pra falar a verdade eu não gosto das derrotas. E tenho medo da volta por cima. Por cima de onde, afinal? Se o teto é tão maciço, tão intransponível? E então, de repente, sinto a corrente de ar. Há uma janela! Já não era sem tempo. Chega uma hora que a própria mente dá a derrota seu alento.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 14/01/2012
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