Só mais um dia.

É só mais um dia triste, sem sal, sem vida, só acordar, comer e posar na frente do computador. Ler umas folhas, ver filmes, qualquer coisa, só para passar o tempo. Barulhos não incomodam, até os pijamas fazem parte do dia. Músicas como the end of the world e how to fight loneliness embalam-na para que adormeça. Esse pode ser o último dia. O dia que você deixou de acariciar, de dizer adeus, de dizer eu te amo. O último para dizer que precisa incondicionalmente de alguém, e que seria falta dela se ela partisse. Mas não. Prefere ficar acomodada, no “amanhã é um novo dia” e não muda nada. Mas quer mudar. Mas não quer começar. Nem ao menos tentar. Diz um até logo, como se o mesmo fizesse-a voltar no dia seguinte. Se sente morta com todo aquele tédio, pessimismo, náuseas as mesmices da vida e ao seu caminho linear. Ela está abarrotada de desejos que não consegue dominar, não tem dons mas tem vontades, elas que se esvaem nos longos e dolorosos pensamentos. Fugir?! cômodo demais. Ficar?! machucar-se demais. Ficar no meio?! isso sim. É prazeroso ver as pessoas sofrerem e se arrastar sobre os pés, vê-las dependentes do seu oi. Depois deixa-las miúdas indefesas, sem proteção, arranjando outras pessoas para atribuir o amor que detinha a outra pessoa. Usa desculpas esfarrapadas. É até doentia. Muda,muda,muda e para na velha estrada que tanto corre de si. Usa de artimanhas. Torna as pessoas tão dependentes da sua presença, e depois foge por não poder corresponder as expectativas. Tanto as dela, quanto as de outras pessoas. Ela resume-se sempre, aquele velho cubículo que chama de quarto, com seus livros deveras empoeirados. Fria, suja, sem vida, opaca, híbrida. Esquarteja corações, cospe emoções e destrói vidas por onde passa. Ela resume-se a dúvida. Mas hoje pode ser o último dia, para ela dizer o quanto ama, o quanto padece sem você, o quanto precisa de você. Afinal, mesmo fria, ela sente, mesmo triste ela quer ser feliz, mesmo cansada ela quer fortaleza. Mas ela não aprende com os erros. Ela sempre os comete de novo. Nunca cresce, sempre estagna no mesmo lugar. Na sua sala, mudando repetidas vezes de canal.. com seu pijama listrado..com sua voz delinquente…com seus gatos, ratos, cachorros e peixes imaginários.. com sua tristeza colocada num pote…sem dizer um adeus…sem dizer um “preciso de você”..sem se arrepender… dormi. Acabou. Por hoje.

Moira Louis
Enviado por Moira Louis em 15/01/2012
Código do texto: T3442453
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