CARRETEL VAZIO...

Hoje, enquanto costurava uma boneca de pano

para minha neta,(eu,que nunca brinquei de boneca,nem ao menos sabia que existiam meninas que brincavam de bonecas ,faço agora

e gosto de fazer bonequinhas para Maria Luiza) desocupei um carretel de linha e no momento em que ia jogá-lo no lixo,parei e fiquei com o passado preso ali,naquele carretel vazio.

Quantos brinquedos criei com um carretel vazio!!

Um carretel vazio era disputado pela molecada como se fosse um troféu de ouro!

Pegava um pedaço de madeira ,que eu chamava de "tabuinha",aquelas que se usam pra fazer caixas de maçãs,fazia tres meia luas no "chassis"da tabuinha e encaixava ali os carretéis.Pronto.Estava feito meu ônibus novo!

Limpava com as mãos o caminho na terra pra fazer a estradinha por onde ia passar meu ônibus.

A cicatriz no meu dedo indicador indica o dia em que eu fiz meu

"revorvinho"de pau com tambor de carretel. O tambor era girado por um elástico preso no cabo do revólver...As balas eram caroços de feijão.

Só os mocinhos tinham revóllver!

Os bandidos usavam um lenço em cima do nariz e da boca.

Mãos ao alto!!! Como eu adorava esta frase!

Um carretel vazio.

Como jogar no lixo um carretel vazio mas cheio de lembranças?

Guardei o carretel na minha caixa de recordações e continuei a costurar a bonequinha pra minha neta.

O passado costurado e arrematado se fez tão presente naquele carretel vazio.