Crônica do Último Dia de Férias

Por tudo que vivenciei nestes dias e também por voltar a trabalhar na segunda, ainda que sabendo que uma avalanche de atividades irá se abater sobre mim, sou a mais feliz das criaturas, verdadeiramente o trabalho dignifica o homem.

Nestes dias fui, sobretudo a mãe, a mulher que resgatou com muita dedicação os momentos pretendidos e jamais esquecidos de todas as vezes que queria simplesmente acordar cedo por acordar e não por obrigação. Fui ao Pilates sem a pressa de sair correndo, com tempo para conversar sobre arquivos musicais,sobre as coisas mais óbvias, filhos, marido nem tanto ,embora que ainda não tendo, me considero especialista, sobre filmes, pré carnaval que muito provavelmente não irei, e até sobre a Luiza que finalmente voltou do Canadá.

Voltar às caminhadas, tendo o prazer inigualável de ver o por de Sol de Fortaleza, caminhando por espaços antes nunca percorridos, como o velho e o antigo da Praia de Iracema, àquele da velha ponte dos ingleses nas imediações do Marina Park, e de lá ver o mar do poente num ângulo nunca antes visto.

Andar pelo espigão mar adentro e contemplar respirando ao ar puro, meu medo de possíveis tsunamis, olhando o horizonte no limite do verde mar, os barcos ancorados e a espera ante a iminência da proximidade do cais e lamentavelmente o lixo nosso de cada dia no ir e vir das marolas.

As leituras, os cheiros que me remetem ao tempo que lia Monteiro Lobato e suas intermináveis reinações de Narizinho, ao imaginável cheiro das tortas da Vovó Donalda na janela, esta última uma eterna lembrança dos tempos que ainda lia gibis, isso sim não tem preço.

De tudo o melhor, o creme de La creme, foi poder ser mãe na verdadeira acepção da palavra , cozinhar e perceber a descoberta do prazer neste gesto,o sentar à mesa em família, coisas simples que em nome desta interminável corrida em busca do nada , torna-se uma raridade.

Descobri que não existe melhor terapia para filho do que mãe e não existe melhor terapia para mãe do que ter a pia repleta de louças para lavar.

Em cada esquina da casa me deparar com o cão, perceber o seu olhar à cada movimento, sentir a sua alegria pela minha existência. Que mais pode se querer da vida em momentos como esses.

Ir à missa aos domingos, ao centro de meditação, ao Paz e Bem na Torre Quixadá, ler a Bíblia, crer com a liberdade e o discernimento de ter Deus dentro de si e Dele ser seu maior templo. Concluo que cada vez ando mais certa de que as religiões são pétalas da mesma flor e assim sei que Eu Sou.

Meditar, ah meditar até que uma luz azul ou violeta se acenda na mente, até que se possa contemplar a respiração como um cavalo alado, ir além de mim ao mais próximo de mim simplesmente sendo uma testemunha silenciosa em consciência sem pensamentos.

Despertar novamente os prazeres da escrita, ir para o aniversário dos amigos queridos, sair final de tarde para um café. Ler o Jornal e descobrir as entrelinhas da beleza que são os fatos e a realidade se descortinando nas horas da vida.

Ao amor dos amores, que acende o melhor de mim, dedico o último parágrafo. Você ilumina a mulher, hidrata meus jardins de inspiração e faz com que a vida seja assim, corriqueira e bela do nascer ao fim do dia. No mais, o mesmo, olhar a estrelas e saber que no céu do meu coração elas desenham para sempre o seu nome.