DIA DA SAUDADE

(30.1)

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Considerado o primeiro filósofo da saudade, D. Duarte, no século XV, foi também o primeiro a dizer que a palavra portuguesa saudade é intraduzível noutras línguas, “que o latim nem outro linguagem que eu saiba não é pera tal sentido semelhante”. E, para entender o que é saudade, segundo el-rei, “não cumpre ler per outros livros”, mas considerar o próprio coração, pois a saudade não descende da razão, mas do coração, e é sentimento por se achar o coração partido da presença de alguém que por afeição se ama. E o escritor Mia Couto, na modernidade, lá de Moçambique, confirma: “A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós”.

Também para D. Duarte, a saudade faz sentir ora tristeza, ora prazer, ora tristeza e pesar, ora prazer e desprazer. Um tipo especial de saudade, misto de nostalgia e arrependimento, consiste em sentir não ter sido o que não fui. Ainda na literatura portuguesa, uma trova de Francisco de Sá de Miranda, no século XVI, retrata esse pernilongo interior, a zumbir, impertinente, bem à porta de nossa alma: ”Comigo me desavim / sou posto em todo perigo; não posso viver comigo nem posso fugir de mim”. Finalmente, o próprio fado é carregado de profunda saudade por amores perdidos, e que, em sons plangentes, assim os canta.

A palavra saudade tem uma característica especial: exprime uma realidade no presente do pretérito. Tratando-se de verbo, seria mais ou menos como o chamado presente histórico, como se o fato estivesse ocorrendo no momento. Mas, no caso, o fato ocorreu e continua recorrente no nosso espírito. Interessante é que não existe um verbo correspondente ao substantivo saudade. A gente diz sentir saudade, estou com saudade. É um sentir que não tem fim, acrisolado sob a forma de um sentimento de ouro que, renitente, se mantém num canto da nossa memória a partir daquele adeus. Daquele adeus forte, quando o coração que parte deixa a metade com quem fica.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 21/01/2012
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