Mulher da vida...vivida

Sentada nas escadas fumava um cigarro, apesar de não ter aquele maldito vicio, estava frustrada, a noite tinha sido péssima. O sol sairia a qualquer momento, precisava respirar, aquele gordo idiota com quem dividira a cama roncava feito uma locomotiva, estava deprimida.

Daquela pequena escada não tinha uma vista muito ampla, na verdade via o fundo de muitas casas sem reboco, roupas esquecidas em varais improvisados, pequenos vasos de flores, beleza simples, descanso pros olhos. O latido de um cão podia ser ouvido de tempos em tempos, mas o que reinava era um silencio doentio, que trazia a tona sua insignificância.

Olhando para baixo reparou em seus pés, esmalte vermelho, sandálias de dedo, pernas bem tratadas, corpo mal amado, mero objeto sem dono, usada, era de todos, não era de ninguém...

Era de família pobre, criada aos trancos e barrancos em meio à violência de um bairro decadente, sem instruções se vendia fácil, tinha muitas privações, poucas oportunidades de crescer, lutando contra as dificuldades para sobreviver ia tentando, os olhos começavam a ficar embaçados, se lembrou da trágica morte de sua mãe, esfaqueada por seu pai na tentativa de defendê-la, maldito bêbado!

Quando os primeiros raios de sol surgiram ainda estava ali pensativa, vendo os primeiros carros circulando, algumas pessoas saindo para o trabalho, os primeiros pássaros, sobreviventes daquele inferno assim como ela...

Quando viu um grupo estranho a poucos metros dali nem se alarmou, discutiam alto, um deles tirou uma arma, deu três tiros em direção ao outro que caiu provavelmente sem vida no chão. Assim como todos era cega e surda, alheia a tudo aquilo. Subiu as escadas para ir embora, foi ate o quarto do homem, procurou sua bolsa e a chave do apartamento, não encontrou, não sabia se o acordava para perguntar ou se simplesmente continuava aquela busca.

Dando um leve toque no rosto dele o acordou, ele já de mau humor esbofeteou-a e a chamou de vagabunda, perguntando o que ela queria. Quando disse que queria ir embora ele a jogou na cama dizendo que queria dar mais uma antes dela ir. Resignada esperou ate que ele gozasse e se vestiu, saiu andando pela rua. Virando a primeira esquina foi atingida por três tiros, sentindo a morte se aproximar pensou: “E ninguém vê nada, são surdos e cegos, alheios a tudo aquilo”

T Sophie
Enviado por T Sophie em 13/01/2007
Reeditado em 14/01/2007
Código do texto: T346081
Classificação de conteúdo: seguro