Maldita cachaça!

Estava eu, um pobre mortal, dentro de um transporte público. E quando me refiro a público, isso me remete a coisas muito negativas, tais como: saúde, educação, segurança, etc. E recentemente, por meio de alguns veículos de comunicação, acompanhei manifestações por causa do aumento da tarifa do transporte público. Estudantes foram às ruas protestar e apanhar da polícia, pois é assim que manifestantes são tratados quando se opõem ao governo. E a justificativa é sempre a mesma, mas não vemos muitas melhorias.

No entanto, o brasileiro têm suas peculiaridades que chamam a atenção e até nos tiram um pouco do foco fazendo com que venhamos a refletir no comportamento de alguns. Era por volta do meio-dia, um calor intenso e acreditem, o ônibus não estava tão cheio, porém, havia ali um homem que estava enchendo a paciência dos passageiros. Ele estava absolutamente embriagado e perdido, sem rumo. E durante toda a viagem este homem não parava de falar. Não dizia coisa com coisa. Até aí tudo bem. Mas um detalhe me chamou a atenção!

Este homem parecia estar satisfeito com a sua condição e exibia todo orgulhoso algumas notas de dois reais tão amassadas que nem um ferro a vapor daria jeito nelas. Aquelas notas eram o motivo de sua insignificante vida. Sim, pois elas garantiriam a ele mais alguns dias fora da sobriedade. Sabe-se lá o por quê daquele homem estar naquelas condições. Um desilusão amorosa talvez, quem sabe o próprio vício pelo álcool o fez perder tudo, inclusive a sensatez. De longe eu o observava. Parecia que queria a atenção de todos e que tinha algo importante a dizer. Mas a linguagem e a forma de se expressar dificultaram-me o entendimento.

Assim que o ônibus parou ele se levantou e desceu cambaleando e jogou sua mochila ao chão. Uma atitude que não entendi. Claro, estamos falando de um bêbado! Mas ao jogar a sua mochila ao chão deixou que todos vissem seu maior tesouro. A maldita cachaça! E fiquei consternado quando vi a surpreendente atitude que ele teve para com o seu precioso tesouro, pois havia uma garrafa de vidro cheia e em pedaços pelo chão. Ele ao perceber a besteira que tinha feito, num ato de desespero para que não deixasse seu tesouro ir embora, ajoelhou-se prostrado como se fosse um animal e começou a lamber o chão secando a calçada até que a última gota de álcool fosse para sua boca. Isso sim foi chocante.

Naquele homem havia paixão, sentimento. O álcool dava sentido a sua infeliz vida. O álcool o mantinha distante do egoísmo e avareza da humanidade. Era isso que importava! Pois o que o fazia continuar nesta terra de ilusão era estar abraçado a sua garrafa de cachaça, eterna companheira até que a morte os separe!