"Chumbo Grosso" parte 03

Após o jantar, tomamos um taxi, em direção ao Brás. Lá talvez fosse o último lugar que nos procurariam. O dia já estava amanhecendo, paramos em um barzinho para tomar café. Dispensei o taxi, a grana nós tínhamos, mas não queria exagerar, pois podia faltar. Ao entrar no bar, vi que o cara do balcão escondia algo.
- Preocupado irmão?
- Eu não tenho irmãos.
- Coutinho?
- É você Nardão?
- Como está, velho irmão?
- Você está um neném.
- Esta é Maria José, uma amiga.
- Parece mais sua neta.
- Tai, gostei de você - riu Maria.
- Cara para mim você estava na diretoria ou aposentado e está trabalhando num boteco?
- É irmão quando você caiu, todos que tinham vergonha foram expulsos, ou pediram para sair. Eu tive sorte fui expulso. Plantava maconha em casa.
- Nem fumar você fumava.
- É por aí irmão..
- E o resto do pessoal?
- Tenho contato com poucos. Alguns mudaram de lado, sei lá a barra era muito forte.
- Eu entendo, vou virar o barco, mas por enquanto tem algo para comer por aí?
- Não tem, mas eu faço.  Me deixa baixar as portas para conversarmos melhor.
- Aí eu te vi, ta aleijado irmão?
- É eu apanhei um pouco, para dar sua cabeça e de outros, mas os F.D.P. não tiraram nada. Aleijaram-me, mas não tiraram. Se eu conseguir alguma coisa você está comigo?
- Como sempre Nardão.
Cervejas, calabresas, e muita risada, viramos os Três mosqueteiros. Vi que ele estava à zero. Peguei o dinheiro e rachei com ele.
- Não irmão, eu faço alguns trocados aqui.
- Pode deixar e recebe que é de coração.
Maria estava com os olhos vermelhos.
- Puxa eu nunca tive amigos assim.
- Agora tem princesa e dos melhores.
- Se você for partir para a ação quero que saiba que não tenho todos os movimentos, mas estou contigo.
- Vamos tentar contatar a terceira idade, mas não mais que seis ou sete, o resto não é confiável.
- Vocês têm armas?
- Sim nosso P4 está completo se precisar?
- Não estou com duas nove mm muito boas.
- Então dê um tempo de dois ou três dias, faremos uma reunião para não dar no bico.
- Nardão, pelo jeito vocês não tem onde ficar.. Eu moro com a namorada num sítio. A casa é grande, podem ficar lá enquanto acertamos as coisas.
De repente, morávamos em um sítio. Uma família maravilhosa com quatro crianças brincalhonas e sorridentes. Na hora de dormir, procurei Maria. Ela estava agarrada a um casal de três e quatro anos. Olhou para mim e sorriu
- Boa noite Nardão.
Saí para a varanda e deitei-me em uma rede, nunca dormi tão bem. A reunião seria à tarde e todos prometeram vir. Houve um tipo de churrasco com a presença das mulheres, quase todas me conheciam, sabiam até de meu problema, só não sabiam que os maridos estavam dispostos a dividir comigo e até resolvê-lo. O churrasco foi uma delícia. Senti-me família, coisa que já havia esquecido. Brincamos, cantamos, depois fomos para um barracão ao lado do campinho de futebol que havia na chácara. Coutinho foi o primeiro a falar.
- Lógico que vocês conhecem o Nardão, e o que houve por causa dele, não por culpa dele. Ele bateu de frente com o sistema, o que faríamos a qualquer hora por discordarmos da maneira deles. Sei que todos tem simpatia por ele e por isso estamos aqui. Vamos tentar acabar com esta palhaçada e fazer valer de novo o orgulho policial, que nossos colegas perderam. Nosso pessoal é reduzido, mas temos a experiência e nisso eles vão dançar. A boate Oasis é o Q.G. Vamos arrebentar com ela e tombar este safado, porque cadeia ele quebra. Pensei que estaríamos em oito, mas o Otaviano está com a perna engessada, e só vai ficar na retaguarda, nos auxiliando nas comunicações. A bruxa vai pegar, mas se morrermos será por uma boa causa. Nardão agora é sua vez.
- Tudo já foi dito, fico triste por ter causado este desarranjo em suas vidas e feliz por estarem comigo. Vamos arrepiar estes safados.
Maria que pensei não estivesse ali falou
- Sou mulher e não sei lutar, mas estou com vocês e quero participar.
Isto me encheu de orgulho.
- Maria, toda ajuda é bem vinda. Todos têm carro, mas não quero queimar nada de vocês. Pegamos no pátio, tem muito carro novo e bom e é da justiça então é nosso. Faremos três grupos e iremos em três carros.

Continua.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 27/01/2012
Reeditado em 29/02/2012
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