IMPERATIVO DE SÚPLICA

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Chamam-se modos verbais as formas que toma o verbo para indicar a atitude da pessoa que fala em relação ao que ela pretende enunciar, no indicativo, no subjuntivo, no imperativo. Mas, engraçado. A palavra elevador, por exemplo, quer dizer que eleva, e nós entendemos, com naturalidade, como sobe e desce. Na verdade, o ascensor não apenas ascende, ou sobe; também baixa ao solo. Da mesma forma, o modo imperativo nem sempre impera. Esse modo verbal suporia naturalmente um tom imperativo, e nós o usamos também no modo suplicante, como em: Senhor, tende piedade de nós! Ou no modo exortativo: Por favor, prestai atenção!...

Esse é um fenômeno curioso da linguagem. A linguagem, mais que a língua dicionarizada, tem seus trejeitos, seus faz-de-conta, tipo “faz de conta que o tarde é cedo”, de Fagner. Em muitos lugares há um setor de Achados e Perdidos. Na realidade, não são achados e perdidos, mas perdidos e achados. Porta aberta é porta aberta. No trânsito, em geral deparamos com carros com a porta mal fechada, não propriamente aberta, e procuramos avisar o motorista do risco que se corre. Existe um ministério chamado da Integração Nacional que não integra, em razão de suas discriminações. E o nome é mantido. Proporcionalmente, a verba liberada para cada habitante atingido por inundações foi mais de cem vezes maior, em Pernambuco, do que a destinada a cada habitante pelos temporais que devastaram Minas Gerais no início do ano. Um pernambucano vale, assim, 110 mineiros, segundo cálculos da mídia. Coincidência, Pernambuco é a terra do ministro responsável. Até nisso, na prática, somos desiguais perante a lei. Manda quem pode. Imperativamente. Como se fosse um imperador, figura rediviva de tempos idos. Com o poder indireto de vida e morte sobre os súditos pela omissão e manipulação de verbas. Ao povo resta o imperativo, mas imperativo de súplica, precedido de um vocativo a Suas Excelências: – Ave, Césares!