Respeito aos Idosos.

Queria voltar pra Goiás, numa cidade que não lembrava o nome, e que viveu bons momentos em tempos idos.

Queria comer pequi com arroz, catar manga com vara de bambu, pescar piau na corredeira, brincar com os filhos pequenos, beber com os conhecidos na venda da esquina, cobrar o empreiteiro pelos serviços prestados, ouvir o noticiário na rádio... , e não sabe porque não permitem que tenha sua vida de volta. Não sabe porque o tratam como criança. Não sabe porque anda tão fraco... Só quer cama, cama... , e sempre passa mal...

Gosta de quando está dormindo, pois todos os sonhos remontam à sua vida “real”, em que corre no quintal atrás de um frango para fazer de molho e vai caçar codorna com estilingue acompanhado dos filhos homens mais velhos, nadar na corredeira para refrescar, olhar pro céu e ficar vendo as nuvens se transformarem, o sol a pino, a transpiração escorrendo na fronte, a esperança de dias melhores, a mulher preparando farofa e um pirão de cabeça de mandi...

Pensa em tudo isso quando vê uma senhora de branco e bastante forte abrir a porta com violência, portando algumas ampolas, toalhas e frascos de comprimidos...

Nisso, por um lapso de segundo, percebe que está vivendo dentro de um pesadelo em que é um velho decrépito vegetando numa cama quente de um asilo qualquer, abandonado por Deus e pelos familiares, dentro da implacável natureza humana...

SAvok OnAitsirk, 28.01.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 29/01/2012
Reeditado em 29/01/2012
Código do texto: T3468309
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.