“Formula Um”.

Naquele dia, Senhor Santo, chegou a casa com a pressão alterada.
Sua esposa Dona Izildinha tentou acalmá-lo.
Olha o coração se aquieta homem.
Mas Izildinha é o negócio de nossa vida.
Ta bom vamos dar um jeito.
E deram, jóias, T.V. Geladeira.
A maquina de costura não Santo,foi presente de minha avó. Bom este jovem casal, ele torneiro revolver, humilde funcionário de uma metalúrgica.
Cinqüenta anos bem vividos.
Ela Dona Izildinha, costureira sem muita freguesia. Quarenta e cinco anos bem vividos.
Roberval compadre, com um negócio da china.
Começou a discussão.
Mas você pegou o dinheiro das férias.
– Já gastei tudinho.
Com estes teréns, não dá é muito pouco, vira pra lá, pra cá. O fuscão mudou de dono.
De sei lá quem, para o Senhor Santo, Aquilino Nogueira Santos, era o proprietário do majestoso fuscão.
E a carta.
Não esquenta compadre, tenho um amigo delegado que te dá um cartão assinado é igual a cheque, apresentou qualquer um bate continência e você vai treinando, quando ficar bom, nos tiramos à carta, é facinho.
Descrição do carro: pneus carecas, documentação vencida, seguro atrasado, motor rajando, mas era só.
Mas se procurasse, tinha paralamas maciado, sem tinta, banco do passageiro quebrado.
Enfim a jóia não era tão jóia assim.
Senhor Santo entrou no conto do falso amigo, que não enfia o dedo no zóio, mas o braço inteiro.
Mas ele não se prendeu a pequenos detalhes.
Sabão na criança, gasolina no tanque e vamos passear. Primeiro no campinho de futebol, para dar uma treinada, estava um pouco enferrujado.
Na verdade nunca dirigiu, lá na roça, quando moleque, sentava no trator quebrado do tio e brincava de piloto.
Por isto, o fuscão foi batizado de” formula um”.
Seu santo para a esposa Dona Izildinha.
–Izildinha, agora eu posso morrer, me sinto um homem de verdade, tenho um carro.
–Santo, meu sonho era ir à praia, agora que temos automóvel, fica fácil.
Seu Santo tremeu na base, será?
Com vergonha de contar à esposa a verdade sobre sua habilitação, concordou.
-Então vamos à praia no primeiro feriado.
-Fechado.
O coitado pensou que teria tempo de treinar porque a Anchieta é fogo,  ele teria que descer pela estrada velha, por causa dos documentos.
E não é que o feriado seria na semana seguinte.
Arrumou um amigo motorista .
Mas os problemas acumularam.
Ele não pode treinar, o amigo deu mancada e os convidados começaram a aparecer.
No carro o espaço é o seguinte.
O motorista e um passageiro, Dona Izildinha claro, no porta malas o espaço é pequeno, mas dá para colocar alguma coisa, o resto vai no banco de trás.
Espere lá não dá, porque a mãe da Dona Izildinha, já marcou presença, com seus cento e dez quilos, mas ela nos afirma que tem setenta e dois e toda a semana perde sete quilos .
Pelo tempo de regime e a perda semanal, deve estar com quarenta quilos abaixo de zero, é uma pluma, um peso leve. Bem então Dona Cotinha, a sogra vai, a filha caçula solteira também vai, mais noventa quilos pelo menos.
Só estas duas já lotaram a traseira, mas tem o compadre João, namorado de Dona Cotinha que é mais fácil, Santo o dono do carro não ir, do que ele.
A lista de passageiros foi enxugada.
Amizades de tantos anos, foi perdida porque tinha uma fila que daria para lotar uma Scania da Zefir, e os de comê?
De panelas de comida com macarrão arroz, frangos, bifes, saladas dariam para matar a fome de muita gente e era só uma boquinha, lanchinho rápido.
Acho que lotariam um caminhão, dos pequenos lógico, quinze toneladas.
Mas não, é no fusca que vai esta comida toda e vamos espremer.
De última hora arrumaram um bagageiro, quebrou o galho. Parece que iam para a guerra.
Hora de levantar vôo, todos embarcados.
Senhor Santo liga o “formula um” e pé no acelerador.
O carro pula, bufa, atravessa a rua e quase sobe na calçada da frente.
Senhor Santo, com o cigarro no canto da boca, aparentando uma calma que estava longe de sentir, mete o pé no acelerador e ganha a avenida.
Graças a um santo forte, não pega nenhum farol vermelho. Atravessa Zona leste, centro, e zona sul, e via Anchieta. Tudo aconteceu como num filme.
Senhor Santo ria com lágrimas nos olhos, porque chorava de medo.
Ao passar pelo Riacho Grande e pegar a estrada velha, entrou muito fechado na curva.
O fórmula um, levantou duas rodas, rodou cem metros e voltou ao normal.
Rodou mais cem metros e estourou o pneu.
Com o estouro do pneu, foi para um buraco ao lado da pista, onde ficou enroscado.
A maquina estava desprovida de macaco, o estepe estava furado, alguma coisa a mais havia acontecido, pois não pegava na partida.
Precisava achar um mecânico e borracheiro.
Próximo à cem metros, uma suave praia os contempla.
Como Senhor Santo não voltava, o pessoal resolveu descer na prainha para molhar os pés.
O piquenique aconteceu, só que em praia de água doce.
 O Senhor Santo aquietou o facho e não fala mais em dirigir.
O "formula um" dorme embaixo de uma goiabeira no quintal, com vários ninhos de galinhas em seu interior.
O Santo é meio ignorante, então ninguém pergunta, porque se fizer, arruma briga feia.
Esta história é real, aconteceu com um amigo de um amigo meu.

Oripê Machado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 29/01/2012
Reeditado em 27/02/2012
Código do texto: T3468809
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