21 – MARCELO BRAGA
 
 
"ACONTECER DE EU SER GENTE E GENTE É OUTRA ALEGRIA, DIFERENTE DAS ESTRELAS"
29.01.2012.
 


 
   Realmente quase tudo que nos acomete provem de nossas próprias decisões. Somos seres únicos e exclusivamente responsáveis por nossos atos.
   Pois bem, nesses dias, não por se tratar de início de ano, tive que provocar sérias e urgentes mudanças em meu cotidiano e rotina. Uma deles em especial germinava em minha cabeça há mais de um ano, como se eu pudesse exercer algum tipo de clarividência. Sabia de sua urgência. Tipo quando desligamos o computador com programas ainda abertos e o Windows nos dá a opção: “Forçar Desligamento – sim ou não?” Optei pelo sim domingo passado.
   Depois de três anos na planta do pé, na mesma ocupação, no mesmo local, na mesma atividade, sentir como em um inside, exatamente às 18:00 de domingo passado e virar à minha companheira e dizer: “Sinto que hoje é nosso último dia aqui.”
   Meia hora depois chega um ultimato da Prefeitura de São Gonçalo que dizia: “Desta data presente, fica impedida a comercialização... etc e tal nesse local... blá, blá, blá...”.
   Pois bem. Esperei a segunda-feira amanhecer. Poucas coisas MATERIAIS se resolvem domingo à noite. A segunda amanheceu pra mim. Tentei entrar em contato com um amigo, amigo tal que já havíamos sido sócios e, além disso, sempre houve certa sintonia no pensar entre nós. Inclusive, fora o mesmo que um dia me havia indicado um tal de Recanto das Letras, onde hoje edito meus textos e poesias. Ele dormia. Eu ligava e ele dormia. Já eram quase 13 horas da segunda-feira e ele dormia. Fui ao Rio, peguei um taxi, bati em sua janela e ele não mais dormia. – Cara, preciso de um Box na Peruana! – Pra hoje! Nesse meio tempo, minha querida gerente telefona e fala: - Marcelo, foi aprovado um empréstimo para você, mas você precisa assinar as vias hoje para pegar uma promoção que reduzirá sua dívida total em R$ 4.000,00. Volto no mesmo carro a São Gonçalo, assino as vias, volto ao centro do Rio, me encontro com esse amigo já na Peruana, mercado popular colado ao Saara, este último, que se compararia a 25 de Março paulista. Um conhecido de época anterior em que lá eu havia trabalhado ouve nosso papo e chama fulano de tal: - Barba, esse rapaz deseja alugar um Box. Barba me apresenta um Box duplo e me diz: - Um mês adiantado. Corro ao banco. Já eram 16:30 e o banco estava fechado. A quantia não dava para ser sacada no caixa eletrônico. – Barba, segura esse cheque, quando compensar você me entrega as chaves. Vou a São Paulo comprar mercadoria e volto na quarta-feira. Ligo para um amigo: - Pedro, aluguei um Box na Peruana, quer ser meu sócio? – Quero sim! – Então Pedro, te espero na Rodoviária Novo Rio e vamos para São Paulo. Ele pergunta: - Quando? Eu lhe respondo: - Agora!
   Na terça-feira, 03:00 da manhã, véspera do aniversário da cidade de São Paulo, chegamos a Rodoviária Tietê, eu, Pedro, minha companheira e minha filha.
 



CONTOS DO SEPTO NASAL - 22
 
 
 
   O resto da história ainda rende mais duas crônicas assim apressadas de informações resumidas e resoluções rápidas e aparentemente precipitadas, mas digo que eram e foram resoluções certeiras, tratando-se da lei da sobrevivência.
   Percebi que as pedras no caminho foram feitas para que tropecemos nelas e os tropeços para que andemos mais rápido. Adiamos decisões esperando que as coisas aconteçam mais naturalmente – mas quando encurralado, forço o desligamento com certa disposição de mudança num radicalismo quase que xiita.
   Digo também que, a mudança não foi apenas de local de trabalho, nem de tipo de mercadoria, mas envolveu também algumas outras mudanças fundamentais para que minha lojinha hoje existente no centro nervoso do comércio de minha cidade natal funcione adequadamente e minha família venha assim ser também beneficiada.
   Tudo ainda é começo, tudo novo, minha cuca ainda está assimilando como fui ter coragem para uma repentina e esperta reviravolta. Mas fiquei sabendo que sou capaz de dar passos mais largos nessas pernas curtas, que o comércio pulsa em meu sangue de tempos idos e preciso sempre de pessoas ao meu redor.
 
 
   “Por mais distante, o errante navegante; quem jamais te esqueceria: TERRA!”
 
 
Texto escrito ao som do disco: “Caetano Veloso” – 1986.



 
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 29/01/2012
Reeditado em 27/07/2012
Código do texto: T3469096
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