CIÇA-A menina que brincava com flores

Ciça tinha o cabelo loiro e gostava de brincar com flores. Na inocência de seus oito anos cada flor era uma moça e, frente aos seus olhinhos ingênuos iam surgindo sofisticadas senhoritas rosas;puras jovens margaridas; donzelas palmas ;discretas estudantes violetas e belas beldades begonias.

Nesses momentos, Ciça transportava-se para o mundo de sonhos das garotas grandes, dos sonhos mágicos das roupas diferentes da sua saia alaranjada e camiseta branca.

O tempo passou e no jardim de Ciça as flores foram tomando outra forma.Outra forma também sua vida tomou. Com a adolescencia chegando Ciça cortou o cabelo. Mas só um pouco. Pouco também foram os sonhos cortados. Já não sonhava com rosas cor de rosa. Mas sonhava, e se revoltava e na rebeldia dos doze anos Ciça não podia mais ser o botão de jasmim nem ser ainda a begonia petulante.

Muito tempo passou e a mulher se fez. O processo foi longo e dolorido.Longo porque demorou sair da capa branca que a protegia e abafava, desde bem antes, quem sabe, da primeira comunhão.Dolorido

porque doeu deixar o colo quente, romper dependencias, e entrar em

contato com a sua vontade de viver e sair lutando,numa luta que nem sabia ainda se queria ser o vencedor.

Nesse periodo e no meio dos conflitos,Ciça se esqueceu das flores.

Não de todas. Quem sabe apenas da singela violeta, pois como ela estudou,

chorou amou...

O tempo rolou, rolou, rolou... e um dia Ciça cresceu.Daí no seu jardim

plantou uma mudinha.Nasceu uma rosa e Ciça reencontrou a menina que brincava com flores.

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