CORREDOR DA MORTE
Sandra Mamede


Para todos os lado que olho vejo grades, dentro delas vejo meus companheiros. Uns choram, outros estão deitados com o olhar muito triste. Parecem ter uma interrogação cravada no olhar, não sabem o porquê de está ali, assim como eu.
Volto para o meu cantinho e penso no passado, antes de vir parar ali naquele lugar horroroso.
Lembro da minha mãe e dos meus cinco irmãozinhos. Como éramos felizes. Corríamos pela grama, nos embolávamos uns com os outros, fingíamos que nos mordíamos e minha mãe como um vigia, ficava a observar tudo. Quando cansávamos, íamos todos para o seu lado, deitávamos ali no aconchego do seu calor e dormíamos. O tempo passou...crescemos e nos separaram, ainda recordo do olhar de minha mãe triste por cada um que ia embora. Minha primeira noite longe dela foi um horror. Não me acostumava, sentia a sua falta, falta do seu carinho, mas aos poucos fui me acostumando com o lugar em que estava sendo criado agora.
Eram atenciosos, faziam a minha vontade, me davam muito carinho, saía sempre para passear, as pessoas me admiravam e a minha nova família ficava orgulhosa de mim. Só me zangava quando me obrigavam a ir ao médico, não queria ir, para que médico se eu estava bem?! Mas ouvia-os dizendo que precisava me vacinar para não ficar doente.
Os anos passaram, fiquei adulto, fiquei velho...um dia sem saber como, vejo-me vagando pela rua, perdido, sem destino...onde está a minha família?! Será que esqueceram de mim?!
Repentinamente sou preso e jogado aqui onde estou hoje, o que fiz de errado para ser condenado a ficar preso dessa forma?!
Vejo homens que passam fardados levando vários iguais a mim, uns tentam resistir, outros choram, outros vão calmamente qual um cordeiro para ser imolado.
Fico me perguntando...por que todos que vão não voltam? Por que eles desaparecem e não sabemos mais deles?! Não consigo entender o que se passa fora dessas grades.
Neste momento um homem se aproxima de minha grade, abre-a e com gestos bruscos me puxam pelas orelhas. Por que me machucam?! Para onde me levam?! Tento perguntar mas eles não me entendem, simplesmente me arrastam por aquele corredor imenso enquanto no caminho abrem outras grades e da mesma forma pegam outros companheiros que se juntam a mim. Um tenta resistir, mas eles o espancam enquanto dizem: - “Não adianta resistir, chegou o dia de vocês morrerem, vocês são um transtorno para todos, ninguém os querem mais”.
Agora entendo porque nenhum volta, agora entendo para onde são levados, agora entendo onde estou. Meu Deus! Estou no corredor da morte! Estou sendo levado para morrer! Por que isso?! O que eu fiz de tão grave para ser condenado à morte?! Onde está a minha família, por que não vem me buscar, me salvar?
Qual foi o meu crime? Amar demais? Ser fiel até à morte? Dar carinho, amizade e atenção?! Por que eles não me disseram que isso era crime, por que ao invés de me ajudarem, simplesmente me abandonaram e me condenaram à morte...por quê?!

Sandra Mamede