Propina dos Garotos.

Quando éramos crianças entre oito e doze anos costumávamos jogar futebol na quadra da cadeia pública local. A quadra era separava da prisão, e apenas para uso dos policiais, que raramente a usavam, pelo menos nos anos que passei boa parte da minha infância, manhãs e tardes ali, sob sol ou chuva, jogando futebol.

Minha mãe ficava louca. Na época a única maneira de encontrar a gente era indo atrás. Nem sonhávamos com bip ou celular. E muitas iam portando sarrafo, cintas, e metiam o couro nos filhos. Minha mãe nunca foi atrás de mim. Acredita que eu chegaria, como sempre cheguei, muitas vezes sujo, faminto e cansado, mas chegava.

Quase sempre íamos apenas eu e o Renatinho, a fim de jogar “gol a gol”. Íamos rindo, trocando passes na rua, até a quadra da cadeia. Quando a porta estava aberta, já que era público para os garotos se divertirem, entrávamos e jogávamos nosso gol a gol, “temperar” quando haviam três garotos, “rebatida” quando quatro e timinho de cinco a mais moleques.

O Renatinho foi meu melhor amigo em infância, apesar de que houve vez em que saímos no tapa por coisas que hoje nem sequer nos lembramos do motivo. Era um sonho bom...

Acontece que havia um carcereiro de nome Roberto, um cara gordo e estranho, que se aproveitava da situação e cobrava vez ou outro uma “taxinha” para que nós pudéssemos brincar. A gente era criança inocente de um interior quente e empoeirado e nem dávamos conta do que estava acontecendo. A gente pagava, pedia dinheiro pro pai e pagava.

Um dia, quando éramos adolescentes, ficamos sabendo que aquilo não era para ser cobrado, que o tal Roberto cobrava indevidamente das crianças para tomar cerveja depois do expediente.

Foi o primeiro contato que tivemos com os corruptos, antes de alcançarmos a idade eleitoral...

Sr. Roberto, seu vagabundo, hoje somos adultos e sabemos que o senhor ainda trabalha aí. Por que não mais nos olha nos olhos?

Você sabe! Ou achava que nunca íamos crescer?

SAvok OnAitsirk, 01.02.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 01/02/2012
Reeditado em 01/02/2012
Código do texto: T3474837
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