Crônica cheia de dúvidas e desespero

Hoje eu acordei com um gosto de sopa de osso de cabo de guarda chuva velho na boca. Guarda chuva importado, osso importado: Inglez.

Meu fígado não deve estar bem. Será que é o fígado? Bílis x bílis?

Libertei gases, daqueles disfarçados, silenciosos, que fumegam na borda anal?

Quem suporta um homem com um gambá saindo pela boca, noite pós noite?

A mulher que hoje me aterroriza, me causa pânico, me faz contar víboras para dormir não disse nada - compassiva e terna - (tenho medo quando mulher nesta idade se torna compassiva). Deve estar tecendo alguma trama!

Não consigo analizar a cabeça das mulheres: Pensam e não pensam, eis a solução!

O que está sendo de mim afinal e qual o meu papel no mundo e na vida desta mulher, que detestavelmente me detesta?

E o que posso esperar dela, cúmplice das nossas patifarias?

Tenho vontade de atiçar fogo no meu passado e no presente, queimar as ninharias e recomeçar tudo novamente, lambendo sonhos e mastigando vida!

Em que mar foram desaguar as minhas mais doces esperanças?

O que eu fiz da minha vida que me prometia tanta vida?

Ó musas tristes filhas da noite da desesperança! O que eu fiz de mim?

Porque eu me permití tantos tormentos?

Silencio, que eu nescessito meditar sobre a historia que hoje se inicia!

Tenho uma nescessidade infinita de ser feliz. Preciso desta felicidade antes que os meus miolos cheirem a nitroglicerina: Tenho um estopim entre os dedos!

Teria eu coragem? Teria ou não teria?

Minha cara ficaria espatifada como uma vidraça entregue ao vandalismo. Seria eu um vândalo de mim mesmo?

Ser cadaver me assusta: Meus inimigos me velariam com escárnio, e uma fuga desta forma agrediria a afeição dos meus. A afeição dos meus é sagrada!

Por isso, eu suportarei qualquer infortúnio: pela afeição dos meus!

Fora isso, ò musas! Por onde eu me esquivarei da noite escura desta vida?

Ainda existem trilhas a seguir, espaços por onde correr?

Ò musas tristes que quedaram aos meus desencantos! Onde encontrar o riso e rir, e abraçar o riso a procurar por mim?

Por onde se começa um canto, ó musas?

Quero cantar em desatino a primavera de uma nova vida!

Quem se inclinaria para os meus amores e perfumaria meus beijos?

Ó musas condutoras da alegria, vinde a mim, preciso um verso!

Para eu me libertar do que eu sou!