"Emoções"_*Perdão*_

Perdão

"Eu te perdôo, sim

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

Eu te perdôo, te perdoarei sempre, pelo passado de amor

Pelos sonhos, pelas tuas promessas, pela minha dor

Pelos sopros de esperança dados, usados, jurados!"...

Sim, no silencioso grito de perdão, calo-me, sentindo que as esperas vindas do infinito de minhas recordações, voltem a me povoar agora, para poder sentir a necessidade de perdoar. O perdão é o mais nobre caminho a se chegar à condição de ser humano, moldado à semelhança de Deus, porque no perdão nos engrandecemos, nos sobressaímos à torpeza dos corações empedernidos, que se locupletam da prepotência, que liqüida com a ternura e se vê como superior. Superior do nada, de coisíssima alguma, pois nada é mais silente do que navegarmos de velas baixas, com o timão travado e a âncora colada no fundo dos desamores, das promessas vãs, que nos desqualificam e que nos derrotam.

Eu te perdôo, meu amor! Simplesmente tu me deste lições, aulas de carinho e ternura, que, na minha inocência cria sinceras, leais e absolutas. Embora sendo fingidas, eu acreditei, me desdobrei em tantos sonos, sonhei tanto, divaguei imensamente e vivi intensamente. Isso me fez feliz. Felicidade estampada no rosto, dissimulada apenas pelos rubores da minha infantilidade, das minhas crenças e dos desejos púberes que me fantasiei.

Como te perdôo e como te agradeço! Meus muito obrigada jamais ficarâo à altura dos meus perdões, porque, na realidade, fiquei transbordante de felicidade, que nada me modificará os pensamentos, os encantos, as magias nas reações deste mundo maravilhoso que, ingenuamnente, tu me fizeste acreditar. Não quero acordar agora, quero ainda me envolver nas malhas do teu bem-querer, nos embalos do amanhecer e nas doçuras do anoitecer, das minhas saudosas ilusões.

Porisso, meu perdão grita alto, grita fundo no meu coração, ao compasso das melodias dolentes que me embalaram as fantasias. Se perdoar fere menos que amar, perdoarei indefinidamente ao correr do tempo, que ainda fustiga minha vida, meus amores e embalam meus dissabores. Perdoar é esquecer, é apagar mágoas, lustrar sorrisos, aquecer apertos de mãos nos beijos das nossas intenções de irmãos, de companheiros que esperam sempre, como alento, nosso amparo, nosso amor, nossa compaixão.

Que tal perdoarmos para sermos perdoados? Um sorriso não vale mais que o rancor? Uma companhia não vale mais que a solidão de almas aflitas? Perdoemos, sejamos hábeis na sacrossanta verdade do saber perdoar. Que tenhamos força, mesmo quando o desalento nos impila a sermos rudes e empedernidos, nas situações mais difíceis de segurar, de acatar.

Perdoemos nossos desafetos, se realmente os temos, com a força da nossa intenção, com o furor de uma paixão, com as delícias de nosso coração, ávidas a se erguerem com as mãos para os céus e clamarem a Deus Sua Clemência, Sua Indulgência pelos nossos atos maiores, menores ou quais possam ser...

Maria Myriam Peres

Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 2005

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 16/07/2005
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