Velhos amigos

Onde andarão os velhos amigos escondidos na memória e que lá do nada aparecem misturados com outras lembranças? Por que se alojam nesses escaninhos meio secretos, de onde alguns saem em horas totalmente inesperadas enquanto outros sempre se insinuam nas conversas recheadas de passado?

Quantos envelheceram de ficarem velhos? Estarão com mais de 50 ou até de 60 aqueles que nunca mais vimos e em nós ainda não passaram dos 20?

Por onde vagam os mentirosos e será que os idealistas mudaram com a acidez do mundo? Os brincalhões ainda carregam seu estoque nem sempre de bom gosto, mas, mesmo assim, sempre melhor do que o mau humor? As centelhas que ativam as chamas continuam a brilhar nos desbravadores do desconhecido mesmo quando ninguém acredita neles? Acomodaram-se os ousados ou se aproveitam da maturidade para fazer suas peraltices sem condenação?

Quantos aprenderam a navegar pelo prazer do azul? E os que navegaram para longe demais, sem aviso nem autorização, e nos assustam quando perguntamos: “E o Fulano?” e nos respondem: “Você não soube?” e nos lembramos que já estamos mais próximos do que distantes da partida?

Perdoaram-nos os que, amigos, viraram inimigos por bobagem e nunca conseguimos nos perdoar de verdade quando seria tão fácil e era tão necessário? Perdoamo-nos?

Existem, ainda, os caminhos reais que abrimos e os imaginários que deixamos desenhados, plenos de aventura e heroísmo? Será que algum chegou a ser o herói que sonhava alcançar ou todos descobrimos que heroísmo não precisa de “super”, mas apenas de “ser” e que isso não é fácil?

Quantos, no inverno, ainda pisam na geada para ouvir, baixinho, o som dela quebrando, como era na infância? E, no verão, olham as borboletas saindo dos taquarais, imaginando que são flores que ganharam asas? Soltam pandorgas com os netos, contando sobre como usavam fio número 10 e as carretilhas que fabricavam?

Alguém superou os medos da infância que os adultos insistiam em aumentar? Medo de Deus, do castigo, da morte, dos abismos?

Velhos amigos, amigos velhos. Amigos.