SENSAÇÃO ESTRANHA
Prof. Antônio de Oliveira*
antonioliveira2011@live.com
A banalização do mal e da corrupção, a impunidade dos grandes, a fragmentação e consequente diluição dos valores deixam sem valor a vida humana. A mídia, de preferência, divulga notícias ruins e promove competições apelativas. De repente, um vencedor do Big Brother se torna herói nacional.
Sentimo-nos perdidos, impotentes, sem confiança nas instituições e nas autoridades. A sociedade se sente dominada, apática, descrente e distante.
O antigo Repórter Esso se apresentava como testemunha ocular da história e o primeiro a dar as últimas. Hoje, pela TV, o próprio povo é testemunha ocular da história, ante o desfilar de protagonistas de novelas, políticos corruptos, jogadores de futebol, de marginais por profissão, e de figurantes marginalizados, sem identificação. Não se realça o trabalho incessante de cidadãos comuns, pessoas honestas, prestantes e prestativas. Esse lado, o do herói do dia a dia, não dá ibope.
Época das cheias em Minas Gerais. Através da televisão, adentram-se as inundações pelas nossas retinas que não as retêm. Rios transbordam, pontes são levadas pelas águas. Pessoas angustiadas. Desabrigados sem conta. Prejuízos incontáveis. Mas a televisão ainda nos mantém longe, como diante de uma ficção, sem participação, sem nos deixarmos molhar pelas mesmas águas. Sem sentir as mesmas aflições. Ao contrário, sentimo-nos omissos, sem coragem, sem coração, sem sensibilidade, sem religião, sem Deus. Imagens, palavras, imagens fortes, palavras de dó e comiseração. Autoridades sobrevoam as áreas inundadas e, quando descem, fazem-no de capacete, botas, colete salva-vida, comitiva, renovando as promessas de verbas de emergência (a serem liberadas...). Cenas gravadas no imaginário popular. Reeleição garantida. Como garantidos ficam também os bilhões para a Copa de 2014. Exibir-se. Aparecer na TV. Mais importante do que cuidar dos cidadãos mais necessitados de uma pátria amada, mãe nem tão gentil assim.
*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.