Paz

Por tanto supor preferir a guerra à paz, hoje meus cefálicos choques elétricos deram-me novo impulso a viver, consoante um desfibrilador reanima um cardíaco. Talvez a paz não seja um estado físico, algo que transmite certo conforto concreto, estabilidade de moléculas, nenhuma disputa: tanto na mais mínima escala de uma troca entre hipertônicos e hipotônicos, quanto até nações disputando interesses. Talvez a paz seja um estado de espírito, algo que traz conforto à mente quando o corpo perde ou ganha; termina, talvez, uma disputa em paz, no aprendizado confortável de um derrotado, e na glória de um vitorioso.

O nosso mundo só existe devido às trocas, às disputas, lutas, inconstâncias, às mutações, se houvesse estabilidade entre hipotônicos e hipertônicos ou entre gregos e troianos, com certeza não haveríamos em tal complexidade, em tal desenvolvimento orgânico e espiritual, os problemas não estão nas disputas, senão na falta de limpeza entre elas, na falta de paz, de honra, de justiça. Quando se entende que a paz não é a ausência de conflito, mas a presença de justiça, quando se percebe que a paz é o fruto do justo, conseguimos entender frases coerentes que às vezes entonam certo vilanismo como: “Se quer paz, prepare-se pra guerra”. Hoje durmo consumindo a ideia de que a guerra quando limpa e consciente por ambas as partes, pode acontecer em paz, quantas vezes somos derrotados, mas perdemos em paz? Conscientes de que perdemos justamente, de que precisamos melhorar? As disputas servem para ensinar os derrotados, para aprenderem precisam ser pacíficos.

Talvez a paz que clamam no espírito cristão, não seja o clamor para que Pilatos deixasse Jesus viver, mas que aceitasse ter sido derrotado por Ele, que refrescasse sua mente em vez de suas mãos ou para que disputasse de forma limpa, não cruel, injustamente e sem oportunidades ao adversário como deixou que o fizessem.

Sonho, hoje e pela madrugada de amanhã, com a minha descoberta paz, tentarei acordar com minhas inconstâncias, minha paixão pela conquista, mas com ela, em toda sua branca instabilidade: construída pela justiça, honra e consciente aprendizagem dos que falharam na disputa. Acordarei amanhã lutando para abrir os olhos e pronto para a guerra, em paz ou pela paz.