Cretinices

Já parou para contar a quantidade de atitudes cretinas a que estamos expostos diariamente? De onde vem esse arsenal todo? Cretinice é um saco sem fundo?

Madame e a filhinha emperequetada passeiam com picolés nas mãos. O papel é largado na calçada com tanta naturalidade que parece que nunca fizeram outra coisa na vida. Será que já fizeram, além de emporcalhar o mundo?

Lava a louça com a torneira aberta o tempo todo, até enquanto esfrega uma colher. Ao ser chamada à atenção, justifica: “Já vi que deve fazer diferente, mas o que adianta se a gente faz e os outros não?”. Depois, a culpa é da Prefeitura.

O trânsito, parece, é a maior incubadora de cretinices. Ah! Os cavaleiros andantes e seus ridículos cavalos de aço!

Carro estacionado no supermercado. Adesivo colado no vidro pede respeito aos professores. Duas jovens senhoras saem dele, conversam sobre aulas. A vaga que ocupam é para idosos, como diz a enorme placa pendurada em frente ao veículo. Talvez não saibam ler.

Paro antes da faixa de pedestres para dar passagem a duas velhinhas. O motorista atrás de mim buzina loucamente e, pelo retrovisor, vejo os gestos que não faria se fosse coroinha. De birra, continuo mais devagar do que o costume até meu destino. Ele, exasperado, buzina e gesticula sem parar. Arrisco minha vida, sei, mas aquele diabozinho da tentação me atentou demais. Acho que sei o porquê da raiva: uma das velhinhas é a sogra dele, mas paciência, eu não sabia.

Dirigindo em estrada de mão única, você está a ultrapassar um ou vários caminhões e o segue um prepotente, colado, dando luz alta e com o pisca ligado, num claro recado: “Sai da frente, tartaruga”. O que ele quer você faça para dar-lhe passagem? Que se enfie debaixo do caminhão, que levante vôo ou que seja instantaneamente abduzido? Tá, tá, ele pode estar com essa pressa toda porque o filho do amante da mulher dele... Deixe para lá.

Ainda bem jovem, a mãe atravessa a rua empurrando o carrinho de bebê. Uma gracinha! Pena que esteja a vinte metros da faixa de pedestre. Mas a criança, quando for grande, vai respeitar. Se chegar lá e não virar outro cretino.