REFLEXO DE UM PARADEIRO PARALELO SEM FIM

     Hoje acordei com uma ânsia salivar em ser feliz. Abri os braços e a porta, saltei nas colinas entreolhares a caminho do banheiro. E pela primeira vez em muitas que não sinto, vi ali na minha frente algo que me confortou.
         Emocionei-me ao perceber que diante de mim estava um ser que antes chorava, antes sofria. Porém, o ser que ali habitava estava feliz possuindo-se de quinze ou sessenta anos mais jovem.
         Abriu-me um sorriso, disse-me um ‘seja bem vindo ao mundo’. Olhei-o nos olhos, senti que em mim deslizava uma lágrima doce e quente no rubor da face. Fitei-o por cinco milésimos de segundo, pude entender seu cumprimento de boas vindas a seu mundo.
         Nas minhas memórias vãs, não consegui reconhecer aquele ser.
         Quando então hesitei abrir meus lábios para perguntar-lhe quem era, ele respondeu-me como telepatia ‘sou aquele a quem era, e hoje a quem me seguirá. Sou aquele a quem chorou na noite em claro, a quem gritou por socorro e pude ouví-lo, sou quem disse que o sofrimento é necessário, pois derrete as pedras da alma... O teu silêncio é a resposta do meu grito. ’
         Reverenciei-lhe um agradecimento, supondo ser outra pessoa ou um amigo distante que chegou agora. Não posso dizer ao certo se era sono ou cansaço que deleitavam minhas pálpebras, e em súbitas várias piscadelas minhas, a imagem no espelho revelou-me o que eu já imaginava, mas nunca previa. O conselheiro da primeira hora do amanhecer, o sábio terapeuta das minhas dores, era ninguém mais, ninguém menos que eu mesmo.
         Lavei o corpo em sinal de homenagem própria. Despi-me da nudez em um azul bonito, abri a porta da rua que me aguardava de braços dados e fui viver mais vários minutos de um outro lindo dia que brotava por trás dos meus ombros erguidos.
         Ali se encontrava meu novo eu. Na antiga jornada em uma nova vida.
                                                                           
                                                                           06/02/12

Renato de Paula Silva
Enviado por Renato de Paula Silva em 07/02/2012
Código do texto: T3484782
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.