FALÁCIA ETIMOLÓGICA

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Objeto de registro dos dicionários etimológicos, etimologia é o estudo da origem das palavras. Definição etimológica é, então, aquela que se baseia na identificação dessas origens. Entretanto, é necessário considerar também a evolução semântica nos casos de a palavra apresentar hoje um significado diferente. Assim, considera-se falácia etimológica imaginar que o significado fornecido pela etimologia coincida necessariamente com o sentido da palavra como empregada no momento. O que poderia constituir um argumento enganoso. Na verdade, como não acompanha a evolução do significado da palavra, uma definição etimológica nem sempre é uma definição real, hoje.

Tomemos, pois, dois exemplos. Ministro, em latim, significa aquele que serve; hoje, na prática, aquele que é servido, haja vista as mordomias de qualquer titular da extensa lista de ministros que usam, inclusive, jatinhos em deslocamentos para casa. “Muitas aeronaves decolam em horários próximos, com o mesmo destino, cada uma com um ministro”, denuncia a imprensa. Outro exemplo, no mesmo campo de atuação: “candidato” tem sua raiz na palavra candidus, também do latim, cândido, ou seja, puro, imaculado, envolto numa túnica branca, alvura, símbolo de candidez, de pureza interior. Na Roma Antiga o pretendente a cargo público se vestia de branco para demonstrar publicamente a pureza de suas intenções. Entre nós, nos últimos tempos, o contrário de “candidato”, no campo político, foi identificado como ficha suja. E é um tal de ficha suja pra cá, ficha suja pra lá, tal a dificuldade de encontrar um ficha limpa, correspondente ao candidato “cândido” de outrora.

Comentando um confronto de consequências trágicas, entre 155 soldados da polícia militar e manifestantes sem-terra, no dia 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás, no estado do Pará, o escritor português José Saramago conclui: “Eldorado, como pode ser sarcástico o destino de certas palavras...”