MENINO DE RUA
(Texto criado para montagem de uma apresentação teatral, como também serve para que possamos fazer uma profunda reflexão quanto ao nosso discernimento das coisas, quanto ao nosso ide, quanto ao nosso amor ao próximo, quanto o que estamos fazendo para ajudá-lo, que tempo temos reservado para ouvir as outras pessoas e fazer algo por elas, principlmente como servos do Senhor).
Ei, estou aqui !
Sei que andas tão apressado...
Não vê que estou desprezado,
Que quero apenas um braço
Para dar-me um abraço
E retirar-me esse cansaço...
Ei! você doutor, professor, engenheiro,
Militar, estudante, artista, pai somente ou
Simplesmente alguém do lar,
Pode aqui se achegar,
Garanto que não vou te machucar.
Minha cabeça tem muitas dúvidas
Nunca tive um aniversário,
Não sei ler, nem escrever
Também não sei o que é ter família,
Nunca tive momento infantil
Alguns me chamam de imbecil
Não circulo no meio de gente
E sinto muita dor de dente
Foi ilário eu perceber
Que sou gente, mas não pareço
Que não fiz mal nenhum, mas padeço
Vivo uma vida pelo avesso
Apenas um cachorro “meu fiel amigo”
Me acompanha, e dorme comigo,
Converso com ele longamente
Mas quanto minhas dúvidas insistentes
Ele, com seus sinceros olhos me repreende
E me diz : “ meu amigo “eu não sou gente”
Medo de mim todos tem
Ando faminto, tenho sede
Sinto frio até estremeço
Meu pequeno corpo tem muitas marcas
E cicatrizes de dias ruins
Não tenho ninguém e nenhum dinheiro
Meu consolo é o lixão
Mas lá a batalha é acirrada
Luto, luto, mas às vezes não consigo o pão
Olha para mim, por favor...
Um dia de longe assisti uma pregação na praça
O pastor falou que devemos ajudar uns aos outros,
Mas os crentes passam apressados, alguns recuados
Sentem medo de mim
Não sou instruído em nada
Ninguém por mim se interessa
Por mais que eu peça
Perambulo em cada esquina
Rezo/oro/falo com Deus, não sei dizer o que
Para que alguém se sensibilize
Estou fraco, estou doente
Amanheço ao relento
Minhas roupas se rasgaram,
Nunca tive um sapato
Me alimento de sobras de bares, e às vezes vou
Até as encruzilhadas
A procura dos catimbós, que tem carne, e farofa
Azeite e bebida,
E às vezes até me embriago.
As prostitutas na noite
Me cobrem com velhos lençóis
Ah! Tem um grupo de espíritas,
Que me trazem uma sopa nas segundas
Esse é o melhor dia para mim !
Mas os crentes nunca estiveram por aqui
Eu pedi um papel a um deles na praça
Ele se negou a me dá
Falou-me que era literatura da palavra
Mas para mim não iria adiantar
Você não sabe ler, fique no seu lugar
Ei! Estou lhe reconhecendo, foi o Senhor mesmo
Aquele pastor, que pregou sobre o amor,
Ei! Estou aqui, por favor, por favor, olhe para mim
Me tire daqui, faça algo por mim
Não posso, estou com pressa, hoje vou pregar longe
Que Deus tenha misericórdia de ti...
Ei! Pastor, por favor, não dá para deixar de ser esnobe
E gastar um pouquinho do seu tempo
Olhando para um pobre?
Venha, aproxime-me, pegue minha mão...
Não tenho identidade
Mas anseio ser amado
E construir ideais
Venha, não tenhas medo, nada te farei
Não pareço, mas sou um ser humano
Que tem vida diferente da sua
Acho que não percebeu
Não sou marginal
Tenho mesmo uma vida
Diferente da sua,
Pois sou apenas mais “UM MENINO DE RUA”.