Mulher ou Zebra ?


Era janeiro de 1993, a família como sempre , combinou a pescaria.
Acampar à beira de rios sempre foi o passeio preferido dos Rodrigues.

Toda a tralha arrumada, partimos pra mais uma aventura de três dias
entre rio, mato, barracas e pernilongos.

Tudo certo, quatro carros abarrotados de gente,
pegamos a estrada de madrugadinha no feriado da sexta-feira.

Porém o que não contávamos,
é que o lindo lugar sob sombras maravilhosas de árvores lindas ,
previamente escolhido,
já estaria ocupado por uma família que se antecipou e
nos "roubou" o local exato para o camping planejado.

Resultado: Sobrou-nos somente um pasto sob sol e vacas por todo lado.
 Mas tudo bem, o importante era pensar que ainda tínhamos as barracas ,
onde as crianças poderiam ficar, enquanto os adultos, eufóricos pela pesca "competitiva"  (normalidade da família Rodrigues) poderiam se divertir na tal pescaria.

Eu era a mais afoita, barrigão completados nove meses de gestação,
esperando o caçulinha Sebastião Neto, que chegaria na segunda feira ,
com a cesariana marcada para as 7:00 hs.

Tudo ajeitado, barracas montadas , crianças brincando à sombra 
(das barracas é claro), começa então a competição.
Realmente o lugar era muito bom.

Era só lançar a isca , sentir a fisgada e puxar o peixe.
- Já estava bem cevado - dizia meu pai - a outra
família  
se encarregou disto por nós.
E assim seguimos o resto do dia.

No sábado , acordamos bem cedo pra não perdermos muito tempo,
mais um dia na beira do rio, no... 
joga isca, olha a bóinha... Fisgou ! Tira o peixe logo !

O sol e o calor eram intensos,
mas ninguém estava nem aí, era só diversão.
Eu de shortinho bem curto e mini blusa ,
nem notava que minha barriga estava exposta ao sol todo tempo.
Só pude perceber que no final do dia, sentia um arder nas pernas e na barriga...
Mas não poderia reclamar, ainda tinha o domingo pela frentre.
E assim foi, mas um dia sob o sol...
Ficando marcas vermelhas na barriga e nas pernas,
onde as roupas não escodiam a pele branca.

No domingo, já estava anoitecendo, quando resolvemos voltar...
Afinal, às 7:00 hs da manhã seguinte,
teria que estar no hospital pra entrar na faca
e conhecer meu bebêzinho...

Chegando a hora, me ajeitei e fui pro hospital,
com a ansiedade e nervosismo que nos cabem numa ocasião desta.
Entrei e logo já estava no centro cirúrgico, pronta pra começar a cesária.

O médico, com um sorriso estranho e um olhar assustado,
ao erguer o lençol que me cobria , vê as marcas de queimadura que faziam listas na minha pele...
 Olha para o anestesista resolve fazer tal pergunta :

" Afinal, é uma mulher ou uma zebra que eu vou operar ? "
- Engraçadinho ele, não ?
Ah, não achei engraçado, nem estava em condição de rir,
mas expliquei o porque das listas ...
(vermelho, branco, vermelho , branco...vermelho, branco...)

E depois de ouvir um sermão "deste tamanho" ,
em plena mesa de centro cirúrgico, por causa da irresponsabilidade da exposição ao sol, ouvi finalmente um chorinho que me trouxe da vida,
aquela  alegria inesquecível... Meu nenenzinho lindo !

Uma semana depois, lá estava eu novamente e agora com um moisés
e dentro dele , uma linda carinha , coberta com um mosquiteiro,
na beira do rio, para mais um dia de pescaria...

E desta vez, sob sombras frescas de árvores lindas.



F I M





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 Não adianta dizer que sou mesmo maluca por estar lá naquele estado,
com aquela enorme barriga, pois faria tudo novamente se fosse possível...

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rsrs

Charlyane Mirielle
Enviado por Charlyane Mirielle em 18/01/2007
Reeditado em 27/11/2007
Código do texto: T350887