A SÍNDROME DO PÂNICO
A sintomatologia é extensa, mas, para mim, para o que me proponho, basta uma singela frase; "Neste momento, a pessoa se desconecta do mundo e passa a perceber somente as reações do corpo."
Quem já teve a infelicidade de passar pela experiência que vou narrar, sabe bem o sufoco que é!
Lá vem você pela rua, caminhando tranquilamente, quando, de repente, sente aquele ronco que percorre o seu último trato intestinal e que, como um trovão que se preze, prenuncia tempestade...e das grandes!
Já imaginando a "via crucis" que terá pela frente, você tenta apressar o passo, mas outro raivoso ronco adverte que "não é bem por aí".
Então, você diminui o passo e pensa: "pô, bem que poderia ser o n°1, porque, em última instância, a gente molhava as calças, mas, pra disfarçar, iniciava um corrida e o pessoal ia acabar achando que aquilo era suor! Mas, com o n°2 não dá, pois, além da mancha, tem o cheiro incriminador e nauseante, que faz os circunstantes se afastarem , como se você fosse portador de uma doença fulminantemente contagiosa.
Novos e mais frequentes assovios e roncos, maldosamente, lembram que você ainda não se livrou do pesadelo, muito pelo contrário.
Se você ainda tinha alguma dúvida, um outro abalo sísmico sacode suas entranhas e a porta de saída sinaliza ameaça de arrombamento!
Nessa altura, amigo, você já é presa da tal da síndrome e aquela descrição lá em cima, dá bem a idéia do estado de animo em que se encontra, que transparece no suor frio que empapa sua testa e escorre por sua coluna.
Mas, então, num arroubo de coragem, você pensa; "Afinal, eu sou um homem ou um rato? Eu comando meu corpo e ele me deve obediência incondicional!". Mas, uma nova e dolorosa cólica, vem lhe dar a certeza de que você deveria aceitar o segundo qualificativo.
Aí, já completamente desmoralizado, você se limita a andar e, pra reforçar a tranca da porta de saída, caminha cruzando as pernas, como modelo famosa, o que lhe dá o ridículo aspecto de "boneca desvairada", atraindo olhares severos dos idosos e risinhos de pura mofa dos jovens,
"Sabe de uma coisa - pensa você - se não der pra segurar tô...(não posso usar a palavra, pois este é exatamente o meu problema)...pra todo mundo.
" - Estou tão perto de casa, que chegaria lá rapidinho, se estas pernas permitissem, mas se eu as descruzar, rompe-se o último bastião da resistência...e a vaca vai pro brejo!"
Até este momento, o medo do ridículo conseguiu, aos trancos e barrancos, salvar a pátria. Mas, com a distância da sua residência diminuindo significativamente, você cria coragem e aumenta um pouco o requebrado. Encurta-se a distância por um lado, cai , na mesma proporção, a resistência, o farrapo da moral e um perigoso relaxamento toma conta do seu corpo. Imediatamente, liga-se o "pisca-alerta" indicando que a tranca da porta de saída está no seu ponto de ruptura.
" - É agora ou nunca - brada sua consciência!". Você se enche de coragem; o seu prédio está logo ali. Tenta aprumar-se (vinha meio encurvado) e sobe , de lado, os poucos degraus da entrada, alarmando o porteiro que coça a cabeça e não pode deixar de pensar; "Rico tem cada mania!".
Adentra o hall, procura o elevador (que está no último andar, é claro) , prime o botão seguidamente, como em código Morse, enviando um pedido de socorro. Dentro de você, os bravos defensores da retaguarda, que suportaram terrível pressão, começam a depor as armas.
Chega o elevador, sai gente, você todo suado, entra, calca o botão do seu andar, reza para as portas fecharem logo, o elevador se arrasta, chega ao destino, abre a porta, você sai, dobrado em dois, tenta tirar as chaves do bolso, erra o bolso, resistência caindo verticalmente, bip acelerado do "pisca alerta", erra de chave, acerta depois, entra, deixa a porta aberta e, então, vem a mensagem final "Não adianta mais".
...e, ali, na sala, a dois metros do banheiro, rompe-se a tranca da porta de saída e começa, incontrolável, a avalanche e você, de pé, deixa-a ir, qual lava ardente descendo pelas faldas (fraldas, ficaria melhor) da montanha. dando graças a Deus pelo alívio.
Depois, com tudo em paz , com o mundo voltando a lhe sorrir , entra no banheiro carregando sua mala cheia e, assoviando, vai para o chuveiro, pela primeira vez na vida, com roupa e tudo.
A sintomatologia é extensa, mas, para mim, para o que me proponho, basta uma singela frase; "Neste momento, a pessoa se desconecta do mundo e passa a perceber somente as reações do corpo."
Quem já teve a infelicidade de passar pela experiência que vou narrar, sabe bem o sufoco que é!
Lá vem você pela rua, caminhando tranquilamente, quando, de repente, sente aquele ronco que percorre o seu último trato intestinal e que, como um trovão que se preze, prenuncia tempestade...e das grandes!
Já imaginando a "via crucis" que terá pela frente, você tenta apressar o passo, mas outro raivoso ronco adverte que "não é bem por aí".
Então, você diminui o passo e pensa: "pô, bem que poderia ser o n°1, porque, em última instância, a gente molhava as calças, mas, pra disfarçar, iniciava um corrida e o pessoal ia acabar achando que aquilo era suor! Mas, com o n°2 não dá, pois, além da mancha, tem o cheiro incriminador e nauseante, que faz os circunstantes se afastarem , como se você fosse portador de uma doença fulminantemente contagiosa.
Novos e mais frequentes assovios e roncos, maldosamente, lembram que você ainda não se livrou do pesadelo, muito pelo contrário.
Se você ainda tinha alguma dúvida, um outro abalo sísmico sacode suas entranhas e a porta de saída sinaliza ameaça de arrombamento!
Nessa altura, amigo, você já é presa da tal da síndrome e aquela descrição lá em cima, dá bem a idéia do estado de animo em que se encontra, que transparece no suor frio que empapa sua testa e escorre por sua coluna.
Mas, então, num arroubo de coragem, você pensa; "Afinal, eu sou um homem ou um rato? Eu comando meu corpo e ele me deve obediência incondicional!". Mas, uma nova e dolorosa cólica, vem lhe dar a certeza de que você deveria aceitar o segundo qualificativo.
Aí, já completamente desmoralizado, você se limita a andar e, pra reforçar a tranca da porta de saída, caminha cruzando as pernas, como modelo famosa, o que lhe dá o ridículo aspecto de "boneca desvairada", atraindo olhares severos dos idosos e risinhos de pura mofa dos jovens,
"Sabe de uma coisa - pensa você - se não der pra segurar tô...(não posso usar a palavra, pois este é exatamente o meu problema)...pra todo mundo.
" - Estou tão perto de casa, que chegaria lá rapidinho, se estas pernas permitissem, mas se eu as descruzar, rompe-se o último bastião da resistência...e a vaca vai pro brejo!"
Até este momento, o medo do ridículo conseguiu, aos trancos e barrancos, salvar a pátria. Mas, com a distância da sua residência diminuindo significativamente, você cria coragem e aumenta um pouco o requebrado. Encurta-se a distância por um lado, cai , na mesma proporção, a resistência, o farrapo da moral e um perigoso relaxamento toma conta do seu corpo. Imediatamente, liga-se o "pisca-alerta" indicando que a tranca da porta de saída está no seu ponto de ruptura.
" - É agora ou nunca - brada sua consciência!". Você se enche de coragem; o seu prédio está logo ali. Tenta aprumar-se (vinha meio encurvado) e sobe , de lado, os poucos degraus da entrada, alarmando o porteiro que coça a cabeça e não pode deixar de pensar; "Rico tem cada mania!".
Adentra o hall, procura o elevador (que está no último andar, é claro) , prime o botão seguidamente, como em código Morse, enviando um pedido de socorro. Dentro de você, os bravos defensores da retaguarda, que suportaram terrível pressão, começam a depor as armas.
Chega o elevador, sai gente, você todo suado, entra, calca o botão do seu andar, reza para as portas fecharem logo, o elevador se arrasta, chega ao destino, abre a porta, você sai, dobrado em dois, tenta tirar as chaves do bolso, erra o bolso, resistência caindo verticalmente, bip acelerado do "pisca alerta", erra de chave, acerta depois, entra, deixa a porta aberta e, então, vem a mensagem final "Não adianta mais".
...e, ali, na sala, a dois metros do banheiro, rompe-se a tranca da porta de saída e começa, incontrolável, a avalanche e você, de pé, deixa-a ir, qual lava ardente descendo pelas faldas (fraldas, ficaria melhor) da montanha. dando graças a Deus pelo alívio.
Depois, com tudo em paz , com o mundo voltando a lhe sorrir , entra no banheiro carregando sua mala cheia e, assoviando, vai para o chuveiro, pela primeira vez na vida, com roupa e tudo.