O EMPREGO
Meu pai havia falecido há uns três anos, e a situação financeira lá em casa não era das melhores. Claro nunca faltou o essencial, porém, para o supérfluo não sobrava muito apesar da pensão que minha mãe recebia do INSS. Esta no entanto, além de irrisória, foi cortada ao meio tão logo atingi os 18 anos.
Cabia-me, portanto, a vez de prover as nossas necessidades. Pusemos, pois, mãos à obra e fomos atrás de um emprego, e o melhor o encontramos!
Através de uma vizinha, cuja irmã era funcionário do órgão, ficamos sabendo da existência de vagas no DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Sêcas).
Assim é que após entrevista, teste e a devida apresentação dos documentos necessários fui, finalmente, contratada para trabalhar como desenhista no Serviço de Aerofotogrametria.
Esse setor funcionava no 21° andar do edifício da E.F. Central do Brasil. Para mim que vinha de trem de Realengo, ficava bem fácil: era só descer no terminal e pegar o elevador. Mais tarde esse setor foi desativado, seu acêrvo enviado para Recife e os funcionários transferidos para a Administração central, localizada na Av. Nilo Peçanha, 155, Esplanada do Castelo.
O prédio da EFCB possui uma torre alta que se ergue até o 18° andar numa determinada largura, em seguida estreita-se e, justamente, nesse ponto ficava situado o meu local de trabalho, bem ali onde está colocado aquele enorme relógio de quatro faces que todo mundo conhece.
O panorama divisado lá de cima era realmente esplêndido, embora perigoso. Havia uma varanda rodeando as salas para facilitar alcançar os relógios no caso de reparos externos. Apenas um peitoril de altura média resguardava quem se aventurasse lá fora de despencar no vazio. Eu mesma tinha um certo receio de andar por lá, não sou muito dada a alturas.
O serviço não era cansativo, e eu o desempenhava sem grande dificuldade. Duro mesmo eram as viagens nos trens da Central. "Todo dia, de dia, toda noite, de noite, pra dentro, pra fora, empurrada, amassada...", como digo em meus versinhos. Mas até isso é coisa fácil de ser superada quando se tem 18 anos.
O ambiente de trabalho era excelente e todos se davam muito bem. Também, pudera, um bando de moças juntas, só podia resultar em muito riso e brincadeira que se estendia, vez por outra, aos finais de semana quando nos juntávamos para ir ao cinema ou fazer algum outro programa.
Na qualidade de filha única eu vivia muito sob as protetoras asas da mamãe, e esse foi o tempo em que comecei a caminhar por mim mesma e a descobrir o mundo. Não vou dizer que todas as descobertas foram boas, mas era necessárias porque faziam parte do meu aprendizado.
E foi por conta do DNOCS que acabei vindo parar no Ceará. Não sei agradeço o fato ou o maldigo, mas, de qualquer maneira, aqui estou.
Março - 1996