GREEE, Grêmio Recreativo Escola de Efeitos Especiais

A cantora Beth Carvalho nos diz numa entrevista que é difícil acharmos uma senhora para fazer parte da ala das baianas numa Escola de Samba porque a igreja evangélica não permite. Como também não é fácil encontrarmos um garoto para tocar tamborim, porque eles estão em geral muito ocupados, empunhando um fuzil. Nos ensina ainda Beth que o samba perdeu muito espaço nas comunidades para o funk.

A Unidos da Tijuca ganhou merecidamente o último Carnaval. Não se discute a beleza dos efeitos especiais, ou espaciais ou plásticos ou sei lá o quê. Como já ganhou em desfile(s) recente(s) pelos mesmos motivos. Contando, é claro, com as evoluções, o conjunto, a apresentação do tema, a beleza dos carros alegóricos, o originalidade das fantasias e da concepção artística da comissão de frente e muitos outros quesitos cuidadosamente elaborados para o trabalho dos jurados. Dentre eles o samba. Letra e música.

Só que a impressão que se tem é a de que o samba começa agora a perder importância diante da suntuosidade que assumem os desfiles a partir das mirabolantes soluções apresentadas pelos chamados carnavalescos. Definitivamente não há mais espaço para passistas, como nas épocas em que brilharam as Irmãs Marinho, do Salgueiro, ou a própria Gigi da Mangueira, da tradicional Estação Primeira. E mesmo os mestres-salas e porta-bandeiras também já não são tão destacados. Até porque os desfiles hoje são corridos – o quesito tempo é de fundamental importância –, o que não permite maiores evoluções dos verdadeiros bailarinos de ontem que aprenderam a sambar no morro ou não se sabe aonde.

E o que falar do samba? Parece que a Beth tem mesmo razão. Que chance teria hoje num desfile uma letra quilométrica como a de “Aquarela Brasileira”, do mestre Silas de Oliveira. Não interessa que seja linda, uma estrutura narrativa das mais belas, tendo como pano de fundo cidades ou estados do nosso país, o país do Carnaval. Não interessa que a música nada fique a dever à letra, a partir da variação de estruturas melódicas de efeito agradável aos ouvidos e em perfeita compatibilidade com o texto. Nada disso hoje interessa. Até porque todos sabemos que o Brasil é lindo, rico, maravilhoso e... ainda explorado. Sabemos também que os negros, os verdadeiros pais de tudo isso, continuam ocupando o lugar que lhes é reservado, isto é, são ainda injustiçados, discriminados e marginalizados. Continuam ainda em cartaz idiotices do tipo “branco correndo é atleta, preto correndo é ladrão”. Nada disso é novidade pra gente. Então porque continuar repetindo?

Tudo deve mudar. A mudança é um imperativo entre as sociedades dos humanos. Não poderíamos continuar indo à praia do mesmo jeito que iam os que viveram na década de 40.

Não adianta chorar. O que adianta é nos prepararmos para ver o funk ou o rap ou coisa similar substituindo o samba nos grandes desfiles. Como também nos habituarmos a neles reconhecer a preponderância de efeitos plásticos originais, tornando o Carnaval um grandioso show com apelo bem maior para os olhos do que para os ouvidos. Nesse sentido podemos até sugerir que as Escolas de Samba troquem seu nome para Escolas de Efeitos Especiais.

Maricá, 25/02/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 26/02/2012
Código do texto: T3521028
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