TAMBÉM CANTA A BEIJA FLOR

TAMBÉM CANTA A BEIJA FLOR

Já passara a mia noite, Edith, cansada de arrumar casa, fazer comida, escovar os cabelos da filha e fazer a maquiagem, dormia no sofá de frente para a TV plasma 32 polegadas que adquirira em dez pagamentos sem juros no cartão hiper card e, entre cochilos e despertares, eis que surge o anuncio: “olha aí a beija flor”! Desde pequena ela sempre torceu ardorosamente pela escola de samba, e em seu coração comportava dois amores, o time do flamengo e a escola de samba de Nilópolis.

Edith lembrava sempre que rebuscava velhas fotos da sua ida ao Rio de Janeiro, nos idos de 1972, da viagem no ônibus da Itapemirim, o embarque na Rua de Santana, é que nesse tempo São Luís ainda não tinha Estação Rodoviária, além dos três dias e noites de exaustiva viagem. Desembarcou no Rio suja cabelos desalinhados, mas com um brilho mágico nos olhos e um sorriso largo nos lábios ao encontrar Miriam, uma prima que á se encontrava no Rio há mais de 20 anos, casada com João, um maranhense de Bacabal, com quem formara uma família de cinco filhos e uma morada em Duque de Caxias.

Edith ficou encantada com a cidade maravilhosa, foi como o despertar da alma, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o equilíbrio da natureza, e até mesmo além da magia. Restavam as lembranças e uma foto desbotada em preto e branco, tirada no Cristo Redentor e outra de braços abertos na praia de Copacabana.

Mais agora, a Escola Beija Flor homenageando os 400 anos de São Luís, ao rigor de brilho e de deslumbrante luxo, nunca se havia visto a imponência do bazar arquitetônico da ilha dos amores, as ruas espremidas e calçadas com pedras seculares que entoa poesia e a alegria de sua gente hospitaleira de cujo falar confunde-se com o som de líricas canções. Assim, Edith solitária derramou duas lagrimas exibindo um sorriso diáfano, é que ela andava sorumbática e com imprevisto estoicismo, mas apresentou de repente, um clarão de lucidez sobrenatural com uma convicção absoluta e momentânea, mas inatingível de ver a escola do coração campeã.

A noite consumia lentamente os ponteiros do relógio, ela atenta ao primoroso desfile, se deliciava a cada passagem de alas, carros, alegorias e, mesmo sabendo da disputa acirrada com demais concorrentes e mesmo que não ganhasse que não lograsse o primeiro lugar, o seu coração assim como o de todos os maranhenses, batia apressado de tamanha emoção. É que de agora em diante, a magia e a beleza de nossa cidade era exibida de forma triunfal a todos os cantos do mundo através da maior festa do planeta. Mas, a Beija Flor completava o desfile e ela sentiu um estranho perfume no ar, abriu a janela e viu que uma chuvinha de minúsculas flores azuis e brancas em uma tempestade silenciosa e imaginável que jamais se apagaria de sua mente. Ela jurou-se satisfeita em estado de grande comoção e nada mais importava, ser ou não campeã, afinal, a sua cidade, a nossa e vossa foi lembrada e nada mais no mundo apagaria essa gloria, o filme e as fotos gravadas para sempre em mentes sãns e corações saudáveis e repletos de amor... Parabéns São Luís, pois até a Marquês de Sapucaí se curva ante uma cidade que é muito mais que um poema, mas uma canção de amor.