A Guardiã, Memórias

Memórias, saudades póstumas, de alguns momentos, ou de alguém.

Nossas primeiras memórias são do tempo uterino, onde passamos os noves meses, protegido como nem um diamante o é. Num cofre que nem o banco mais moderno o tem. O útero de uma mulher.

Quando nascemos, nos sentimos sozinhos, com frio, e com saudade; saudade daquele lugar onde poderia cair o mundo, mas estaríamos protegidos... O útero da nossa mãe.

Ai vem à memória, memórias das conversas ao pé da barriga, das músicas cantadas para dormimos; os questionamentos: Com quem você irá parecer minha vida? Como você está?... Os pedidos: Por favor, filho (a) num mexe tanto, nossa! Estou quase sem fôlego, calma...! Deus, que meu filho (a) nasça saudável, o resto eu faço... O carinho, o murmurar baixinho à noite, boa noite, meu bebê... Vamos dormir... Amanhã conversaremos mais; e quando você nascer terminaremos nossas conversas, para outras começarmos...

Quanto mais o tempo passa mais memórias criamos, mais saudades sentimos... Somos crianças agora, e continuamos protegidos...

Segunda separação; a escola, onde choramos nós, e ela também... Novamente a memória a nos consolar... As memórias do tempo pueril... Dos primeiros passos, da primeira queda, oh, que susto! Mas superamos, levantamos e voltamos a caminhar... Da bagunça ao tentar comermos sozinho (a)... Comida no chão, mesa, feijão até nos olhos...! E ela lá, pacientemente olhando e dizendo: tudo bem, você precisa aprender a comer com suas próprias mãos, depois eu organizo tudo... Orientando como pegar na colher... Deus! Foi feia a coisa, mas a cada dia, a sujeira diminuía...! Sujávamos menos! A ida a praia... Brincar na areia, e ela lá, olhando, vigiando, nada de por areia na boca... E o mar?! Nossa quanta água, entro nada, socorro! - E, o adeus as fraudas? Nada de fazer xixi na cama, e agora?! E mais uma vez, lá estava ela, a nos orientar... Quantos momentos para nossa memória dessa GUARDIÃ, que não hesitaria um só segundo a dar vida por nós!

Ah, se não existisse a memória, o que teríamos nós, para nos dar força, em mais esse momento de separação?

E as separações vão acontecendo na mesma proporção que a nossa memória cresce... Memórias e memórias! Passado o período da “Educação Infantil”, agora, é outra história, não podemos mais chorar como choramos lá atrás, ririam de nós... Mas a dor é a mesma: Mais uma separação... Maior do que a anterior... Então recorremos as nossas memórias!

Quando dancemos quadrilha... E na verdade nem sabíamos andar direito, e ela lá, toda orgulhosa... Dever de casa?! Oh, Deus! Mais uma vez, socorro Guardiã! Quando aprendemos as primeiras letras, o nosso primeiro nome! Uhu!... Sua alegria... Meu filho (a) já sabe escrever seu nome... E aquele moleque que veio e nos carimbou com uma mordida! Ela ficou doida da vida! E quando somos vitimas por mais de uma vez? Ela pensa: Meu Deus! Será que vou ter que mudar de escola? Mas, os dias se passam, e?! Aconteceu! Aprendemos a lei da autodefesa... Vem a professora e diz: Seu filho (a) mordeu o colega... Estavam brincando, foi rápido demais... E, intimamente ela pensa: Ufa! Estava mais que na hora... Que alívio! Mas chegando em casa, ela diz: Filho (a) por que você mordeu seu colega?Por favor, Não faça mais isso. Quando algum colega tentar te machucar fala para professora, certo? E nós respondemos: Certo. Certo?!

Bom, ao Ensino Fundamental, agora vamos sozinhos para escola, estamos crescendo... Sua ida conosco só no primeiro dia, no mais, nas reuniões de pais e professores... Tudo diferente! A escola é enorme! Tantas salas, tantos professores, e nós, tão criança ainda...

As datas comemorativas não têm mais o mesmo encanto...! Somos gatinhos perdidos entre os leões, oh, Deus! Não temos mais a nossa Guardiã, como tínhamos antes, agora ela trabalha, corre de um lado para o outro, o nosso dever de casa, não podemos mais pedir a sua ajuda, seu conhecimento... Nessa fase a memória já é enorme... Já não queremos mais crescer... Queremos a voltar a sermos bebê... Quando a menor mudança de humor era vista com toda atenção... Mas, não podemos voltar no tempo... Tempo onde um sorriso, um pedido de colo era atendido antes mesmo de abrirmos os braços...

Tudo isso agora, está em nossa MEMÓRIA, MEMÓRIA que nos diz: Deves seguir enfrente, a Guardiã já te passou todos os segredos da vida, mas só vivendo a vida que desvendarás os segredos, na construção da tua humanidade... Nesse momento de reflexão já estamos na faculdade, e ainda querendo, chegar ao portão da mesma e vê-la lá, nos esperando, mas com certeza, jamais confessaríamos, ou admitiríamos isso para alguém, ou até mesmo para nós! Quando isso acontece, nossa memória falhou, não foi tão clara para nos fortalecer para que seguíssemos sem nossa Guardiã, ai choramos e desejamos o mais fervoroso desejo: Oh, Deus, como eu queria está agora no útero da minha mãe, como eu queria vê-la em minha frente agora, com aquele mesmo olhar das minhas travessuras quando bebê, criança, adolescente, não somente nessas memórias que agora mim é falha!

Passado o medo de ser gente grande, nossa memória volta a ser forte como sempre foi e, superado o medo de ficarmos longe da nossa guardiã... Como uma volta à fase dos nossos primeiros passos, cai, levanta e caminha; iniciamos os nossos primeiros passos como adulto... E a memória dos seus ensinamentos nos vem e não nos deixa desistir... Caímos... Levantamos e voltamos a caminhar...

Memória, a guardiã do nosso amor a GUARDIÃ da nossa vida, dos momentos vividos, que nos dar saudades, para não esquecermos que a GUARDIÃ, também já esteve em um útero, e como nós, também sente falta dessa momento, que para ela, somos nós (os/as filhos/as).

Natal, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012, 18 horas e 38 minutos.