Mentira ou Verdade, será que as pessoas estão preparadas?

Mamãe sempre dizia, quão lindo é se dizer a verdade. Chego à conclusão que isso é um erro na formação. Sofria da inconveniência de falar a verdade compulsivamente. A menor gafe, a maior, não perdoava uma, dizer a verdade era como uma lei para mim. Mamãe algumas vezes tentava até remediar algumas coisas que dizia, quando tia Carlota perguntou se havia perdido peso de uma semana para outra:

-Engordou!!!

Não foi isso que ele quis dizer ela tentava remediar. Mas não era ela que falava que tínhamos de falar a verdade? Também não era ela quem dizia que crianças não mentem?

Pois bem, após tantas experiências catastróficas, de palavras ao vento, cheguei à conclusão de que mentir era a solução.

Em casa em uma simples brincadeira de pega pega, meu irmão e eu corríamos pela sala de estar, o tapete amarrotado, cheio de marcas de passadas de um lado para o outro, no centro uma simples mesinha com a maior relíquia de mamãe, o troféu de crochê, tal qual tinha um valor inestimável a ela.

Nesse corre corre de um lado para o outro, um estampido, o barulho fez chamar-nos a atenção. No chão parecia ver um quebra cabeças de mais de mil peças, apenas com um detalhe, as peças ali espalhadas não se uniriam mais.

Minha mente começava a surtar e agora? Mamãe havia dito tantas vezes que verdade demais, pode prejudicar relações entre pessoas. Amava mamãe, e não queria vê-la nervosa comigo. O som das chaves na fechadura e o estalar da maçaneta abrindo me deixou estatelado.

A cara de espanto dela em ver tal relíquia, que antes era um primor, agora reduzida a cacos, fê-la ficar em prantos. Caso ela fosse o Huck, nessa hoar ficaria verde e espumante de tanta raiva. Os olhos pareciam fuzilar-nos em busca de quem era o culpado por tal ato.

- Foi ele- dizia tentando livrar-me da culpa

-Mas, mas

Meu irmão não teve tempo nem de argumentar, castigo de um mês. Cancelado TV, videogame, internet e outras coisas mais que adorávamos.

O dia passou, recostava na cama, mas sentia minha cabeça pesar, como se meu intimo achasse que havia feito algo de errado. Dormi.

Tudo parecia normal, mamãe ainda nervosa, meu irmão sentado no sofá da sala, porém apenas um detalhe, havia algo estranho neles. Suas pernas estavam curtas demais. Seria uma nova meia? Não devia ser, estava usando as mesmas que eles, mas minhas pernas estavam normais.

Na escola a mesma coisa, as pernas curtinhas, fininhas e curtinhas, como palitos de fósforo unidos, continuava a me perseguir. Desde a pessoa mais conhecida a mais estranha, suas pernas se assemelhavam a duas varetas minúsculas.

- Chega, chega!!!! Fui eu- dizia em prantos levantando da cama

Mamãe ascendia à luz, preocupada até demais, não era comum acordarmos no meio da noite, e ainda por cima com um berro daquela altura. Olhava-me com complacência, ela sabia que estava mentindo, pelos tremores na perna, as mãos cruzadas, os tremores, e aparentar-me estranho o dia todo, ficava estampada em minha face, a mentira. Principalmente em um mentiroso principiante como eu que não sabia nem disfarçar.

Tudo era um jogo, mamãe sabia o verdadeiro culpado, queria apenas dar-me uma lição, na qual, aprendesse a diferenciar que na vida existem momentos e momentos. Existem vezes em que não se deve nem ser tão franco, nem mentir, devemos omitir a informação, ou como se diz no popular “fechar a boca”, em outros que a verdade hei de prevalecer.

Mentira nunca mais!Pernas curtas a me assombrar, nunca mais. Fraqueza, também não. Tudo é um meio termo, a busca pelo equilíbrio entre falar o que deve ser falado, e não jogar palavras ao vento. Mentira tem perna curta, nos fazendo cair no descredito. Franqueza, língua longa, nos intitulando como “os chatos”. A sociedade não está preparada para a verdade nua e crua, graças a isso é que se deve atingir este equilíbrio, ou manter a boca fechada.

Moral: Tudo tem-se um meio termo, a mentira perna curta, a verdade língua longa, atingir o equilíbrio é o segredo.

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 29/02/2012
Reeditado em 29/02/2012
Código do texto: T3527727
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