OS MALES DO SENSO COMUM

O senso comum é um conjunto de opiniões aceitas em uma determinada época, de uma forma tão cega e irracional, que qualquer outro ponto de vista contrário, é considerado aberração (A.B. H). Para mim, é mais que opinião: é um juízo inapelável. As pessoas quando o usam não esperam e não aceitam contra-argumentos.

Para o livre pensador e toda pessoa que ama a dinâmica da Vida, conscientes de que: juízos de valor, conceitos, hábitos, culturas estão sempre mudando. A vida é movimentos.

Porém, não se pode deixar de reconhecer a força do senso comum, principalmente como argumento de pressão social. Numa sociedade cujas leis e instituições não se prestam a esclarecer o povo, tem-se o senso comum como práxis.

Assisti a uma reportagem sobre os costumes de algumas sociedades indígenas, que enterram vivas crianças que nascem com algum problema ou, simplesmente, porque são do sexo feminino. Estudiosos, pesquisando este fato, descobriram que tal prática é extremamente dolorosa para toda a aldeia. Mas, a pressão social, respaldada no senso comum, é tão forte, que os fazem praticar um ato que fere, magoa toda a comunidade. E não é só nas sociedades primitivas que o senso comum impõe falsas verdades e espalha cizânia contra os bons sentimentos e o bom proceder. A diferença é que, nas sociedades civilizadas o senso comum já não exerce tanta pressão de grupo, é usado de forma individual, de pessoa para pessoa. Não se enganem pensando que só as pessoas mais simples lançam mão desse recurso, as pessoas esclarecidas não se pejam em usá-lo.

O principal motivo desta crônica não é tão só o de dar minha opinião sobre o senso comum. É a forma que encontrei de prestar solidariedade a um amigo que está sendo vítima deste recurso abominável. E, para respaldar minha assertiva, narrarei a história deste meu amigo.

Num gesto de desabafo, contou-me, o amigo, que, após um bom tempo de conhecimento com uma mulher, a quem ele dedicava muita consideração, amizade genuína e muito carinho, ela era, para meu amigo, um Ser especial, depositava toda a confiança nela. Pois bem, um dia, ele precisou do apoio urgente dessa amiga, mas ela o deixou na mão – renegou a amizade dele, tornou-se indiferente diante do seu sofrimento.

Meu amigo, por sua vez, não suportou o descaso, a frieza daquele Ser tão querido; entrou numa fase de completo desequilíbrio das emoções. Desestruturou-se todo, entristeceu-se, o coração se encheu de mágoa,... Como ele é poeta, passou a escrever poemas que falavam de traição entre amigos, poemas cheios de sentimentalismo e de tristeza.

Não demorou muito para que a voz do senso comum se levantasse para deturpar as coisas, que já estavam difíceis para meu amigo. As pessoas do ambiente de convívio dele, em uníssono, começaram a dizer que meu amigo estava apaixonado. Diziam:- Quem odeia, ama. Você está sofrendo de amor não correspondido. E quanto mais ele dizia que não era nada daquilo, mais falavam de sua “paixão” pela tal mulher.

Condoído com sua situação, propus um plano para que meu amigo anulasse os argumentos do senso comum, teria de ser algo que não admitisse réplica, algo que ferisse o brio dos deturpadores; pois, os argumentadores do senso comum são cegos e surdos. Sugeri para que meu amigo fizesse a seguinte proposição comparativa ao “pessoal” do senso comum:

Imaginassem que ao invés da desleal amiga, fosse um amigo que o houvesse “traído”; se ele, meu amigo, estivesse sofrendo e sentindo a mesma mágoa e ressentimento pelo amigo ingrato, que sentia pela desleal amiga, deveríamos concluir, então, que meu amigo estaria apaixonado pelo amigo desertor? Estaria sofrendo por um amor não correspondido?

Ninguém vai poder alegar que se trata de caso diferente, pois, amizade e amizade; paixão é paixão,... Se negarem, estarão admitindo que não possa haver amizade entre homem e mulher. E, com este argumento, estarão admitindo que todos seus relacionamentos com o sexo oposto escondesse um amor proibido ou estão impregnados de lasciva, pronta para explodir na primeira oportunidade.

A esses tais (que só pensam naquilo) conforme jargão popular, é bom que se diga: as teorias de Freud sobre a libido já têm novas versões. É premente que se atualizem, ao menos aqueles que querem se contados como pessoas esclarecidas. Aos simples, que não têm e não tiveram oportunidades de aquisição do conhecimento, nossa compreensão e nosso respeito.

Quanto ao meu amigo, ainda não o encontrei para confirmar se ele colocou em pratica minha sugestão. Espero, sinceramente, que ele tenha conseguido “calar a boca” aos seus deturpadores.

“É principio comezinho de JUSTIÇA, que não se acuse, julgue ou condene alguém sem antes ouvir ambas as partes.”

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 29/02/2012
Reeditado em 15/05/2012
Código do texto: T3528185
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