O dançarino de Forró

Que saudade das noites exuberantes do clube "Espera Tapa", na minha cidade de interior.

Já tinha l4 anos, e todo sabado eu saia com meus amigos para dar uma volta pela cidade, ver as mocinhas, e brincar de sinuca no bar do seu Carlos, e jogar conversa fora.

Por volta da meia noite a gente ia para o "Pinhão", para ouvir a musica do Cascatinha e Inhana, Duo Ciriema, e o Waldhychy Soriano.

Bethânia, os Beatles, cat Stevens e Sueli Costa, ja encantavam a minha geração, mas no Pinhão só dava as Ciriemas, o Cascatinha e o Nhaldychy.

Depois a gente ia para o "Espera Tapa", para ver o Fernandinho e a Maritana, o Vitorim e a Joaquina, e o Abelar Mancebo e a Alzira Gorda.

Não sei porque chamavam aquele clube de "espera tapa", sendo que o verdadeiro nome era: Familiar Clube Recreativo e Social da Cidade de Resplendor.

Deve ser por causa de uma surra que a Maritana deu no delegado Rômulo caôlho, num sabado de aleluia, de tamanco.

Punhal pistola e revolver era mato, mas nunca houve um tiroteio!

Todo mundo ia para se divertir e se encantar com o Fernandinho e a Maritana.

Era a alegria! Era a animação! O engoma cueca! O libertar da tesão!

Mas a estrela do baile era Fernandinho, todos se voltavam para a sua figura: Imensa!

Dançando, se observava que era bastante alto, perto de 1,90m da mais fina esbeltez, e todo de branco, o mais fino linho Irlandez. Até o sapato possuia alguns detalhes marrons, para realçar a elegancia dos pés.

E êta o Fernandinho valsando um tango, sambando a rumba, dando alma ao rococó.

Superava as leis da gravidade, da física e a astrofísica, abrindo novas informações sobre os buracos negros, e as estrelas anãs.

Maritana, apesar dos seus 1,90 de altura, ficava pequenininha nos seus braços. Ia e vinha, sonhando, valsando, amparada naqueles braços fortes, valentes!

Havia um estranho encantamento naquele dançarino: Era impossível descreve-lo dançando!

Havia nos gestos de Fernandinho, uma mistura de Nijinsky, Fred Astaire e Isadora Duncan.

Era como se ele reunisse os gestos, os passos, o olhar altivo do bailarino e criasse a sua propria dança, e soberbamente deslizasse no meio daquelas criaturas comuns.

Havia um momento em que todos paravam: ele dançava só. Solava esplendorosamente, e a gente via uma bailarina nos seus braços.

Era como se Ana Pavlova fugisse do éter para dançar um "pás de deux" naquela sala, onde ao invéz de finos solos de violinos, havia uma sanfona gripada!

Quando terminava o baile ele vinha estar entre nós, e se notava que a sua altura na verdade, não passava de l,50m: Diminuíra!

A dança é que fazia ele crescer, ganhar tamanho.

Levitava dançando o "besa-me mucho".

Nos dias de trabalho ia ele em cima de uma carroça, levando barro para amassar e fazer telhas na Cerâmica São Vicente.

Era o retrato da felicidade, dando risadas e conduzindo carinhosamente a mula "mimosa".

Vivia intensamente. Uma criatura etérea. Agraciado irmão dos querubins!

Dedicado às mulheres daqueles tempos,

e à Maritana, guardiã do Pinhão.

"Casa das criaturinhas de Deus"