Garoto do beco

Noite fria no Rio de Janeiro, as sombras prevaleciam diante de uma tempestade de rajadas luminosas que cortavam o céu. Não longe dali, em um beco escuro, uma criança brinca com um carrinho de brinquedo de três rodinhas. Naquele mundo ele imagina que todos os seus sonhos tinham se tornando realidade que quem estava andando naquele carro, lindo e perfeito, ele estava chegando a sua mansão em Copacabana, e por lá encontrava seu amor a sua espera.

Os sonhos daquele pobre garoto estavam distantes de se tornar realidade, naquele beco imundo e cheio de ratos ele estava deitado sem um cobertor e sem ninguém para conversar, sem mãe, sem pai , sozinho no mundo. Mas ele estava feliz, não como estaria em uma casa bonita e confortável com seus pais cantando para ele dormir, mas ele se achava feliz ali imaginando como o mundo seria melhor.

Para ele a noite cai mais cedo do que para as outras pessoas, e termina bem mais tarde, um passo ele se acorda pensando que é a polícia que vem para caçá-lo (por duas vezes esteve em casas de detenção, e nas duas vezes ele tinha sido inocente), um assobio é motivo para correr, uma sombra é motivo de medo.

Mas ali estava tudo calmo, nada e ninguém poderia interferir em seus sonhos. Enquanto pensava uma senhora era assaltada na rua de trás podia ouvir seu gritos e seus passos apressados para fugir dali, mas o medo era tão grande que ele só se encolheu um pouco mais sem deixar de pensar em seus sonhos.

De repente seus sonhos são cortados por passos vindo em direção ao beco, dali ele não podia fugir, por um momento ele fica temeroso, mas não era nada, apenas um bêbado maltrapilho que passou com uma garrafa vazia. Volta a se acalmar mas dali em diante ele não tem mais um momento de paz, volta e meia ele escuta passos e constantemente fica temeroso.

A vida daquele menino é tão difícil, durante o dia depois de acordar (e quando dorme) vai para os sinais, ou bate nas portas das casas para ver se consegue alguns trocados, pelo menos para comer, e beber água. Mas dificilmente alguém dá algo, nos sinais quando chega perto dos carros as pessoas fecham os vidros e fazem a cara mais zangada do mundo, ficam xingando dizendo que era para ele ir para a escola (até que ele queria, mas estavam todas lotadas), nas casas sempre diziam que a dona da casa não estava, ou nem isso. Será que era muito pedir para comer?

E a noite procurava algum canto para se abrigar e ao mesmo tempo se esconder daqueles que não gostavam de crianças. Naquela noite aquele beco seria seu dormitório, de vez em quando ele olhava para cima e só via jatos de luz e sons assustadores informado de que tiroteios entre as favelas estavam acontecendo.

Uma correria porém chamou sua atenção mais que o normal, dois homens vestidos de preto entraram no beco, cada um com uma pistola atirando para a rua, quase instantaneamente de lá surgiram quatro policiais todos armados atirando para todos os lados.

No meio da luta ouve-se um grito que não era de nenhuma das partes que estavam brigando, no fim do beco um garoto de uns 12 anos cheio de sonhos mas com muita vontade de viver cai no chão imundo, ao seu redor forma-se uma poça de sangue, ao fim da briga ele é esquecido, deixado, jogado no meio dos ratos sem ninguém para fechar seus olhos.

Bruno Edson
Enviado por Bruno Edson em 20/01/2007
Código do texto: T353563
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