Sou um homem que facilmente se apaixona. Desde criança sempre me apaixonei por tudo. Imaginem se não me apaixonaria pelas mulheres! Para mim, a carga de beleza contida na mulher sempre constitui um poderoso chamado ao intercâmbio e à alegria.
         Meu coração nunca esteve vazio ou árido. O amor pela mulher está sempre no pano de fundo do meu viver, sendo a nota constante da minha vida, mesmo quando me sinto melancólico a mulher está sempre presente como harmonia insubstituível na unidade do todo.
         O meu primeiro amor foi I... quando eu tinha onze anos. Seu rosto ficou guardado na minha mente. Eu sonhava com ela em minhas brincadeiras infantis. Eram apenas sonhos... O amor pode perfeitamente nascer no coração de uma criança sem necessidade de muita luz, detalhes ou de muitos sinais.
         Aos 14 anos o espaço da mulher em mim foi ocupado por M... Lembro-me dos seus cabelos longos e, certa vez, rocei levemente neles em suas costas, não por acaso. Ficou em meus dedos a sensação de leveza daquele corpo feminino.
         A mulher, desde então, se tornou para mim um misterioso e delicado porta-jóias, digno de ser tocado com flores e acariciado por mãos sonhadoras.
         Pouco tempo depois ultrapassei a fronteira como um soldado de aventura ainda incapaz de compreender as exigências do amor que é algo grande demais para a prepotência de casas passionais, onde mulheres gritam e choram em meio a estranhos sorrisos.
         Quando alcancei a idade adulta entendi a feminilidade da mulher como o sinal mais precioso e envolvente de unidade na vida, na verdade, na vontade, na justiça, nas palavras, na casa, na mesa, na fecundidade, na alegria. Não se refere isso apenas ao corpo, mas ao ser. Não diz respeito ao contingente, mas ao absoluto. Não diz respeito aos sentidos, mas à pessoa. Não diz respeito ao sentimentalismo, mas ao amor. Não diz respeito à fraqueza lasciva, mas à vontade. Quando tomo consciência disso, sinto o arrepio das coisas divinas...
         Ainda me causa admiração e indignação a noção de temor de metade do gênero humano diante do “perigo” em virtude da presença da mulher, onde se constroem muros insuperáveis e, o que é pior, se fecham os corações. “Só para homens” ou “só para mulheres”. Em certas igrejas, por exemplo, as naves são bem divididas: à esquerda, as mulheres ; à direita, os homens. Como se bastasse para separar um material tão explosivo e feito para estar junto da aurora ao crepúsculo. Isso, absolutamente, não me agrada, se não por outros motivos, pelo menos razão estética. Como deixar de lado tantas sublimes criaturas? São as mais vivas, as mais fiéis, as mais atentas. Na cordialidade, as mais simpáticas. Na doação de si mesmas, as mais generosas.
         Isso é um fato! Na presença da mulher a alegria de viver é muito maior. No entanto, sou capaz de compreender que os mais belos sonhos desfazem-se pela ambigüidade das relações. E a causa será sempre a mesma: deixar-se tomar pelo egoísmo de arrancar uma flor do jardim ou querer comer apressadamente o fruto doce, transformando o amor da mulher numa reserva de caça. Isso é, no mínimo, anacrônico.
         Neste Dia Internacional da Mulher, reafirmo minha confiança na mulher porque sei que os braços dela são mais capazes que os meus. E, quando ela me dá a sua intimidade, desenvolvo em mim mais a busca da pessoa que do corpo. Não me espanto mais com a indescritível beleza do corpo feminino e permaneço sereno diante sua feminilidade que me fortalece e ajuda a viver.
         Permitam-me uma última confidência e entendam-me. Percebi que a mulher é melhor do que eu que tive a sorte de nascer homem. Vejo a mulher sempre um pouquinho à minha frente. Mais humilde na humildade, mais forte na paciência, mais verdadeira e ardente no amor. Não quero que pensem que estou fazendo simples elogios à mulher ou, pior ainda, que estou sendo sentimental. Estou, creio, dando um testemunho da verdade, para além da própria virtude pessoal de cada mulher. As mulheres são mais disponíveis que os homens e não é por fraqueza. As mulheres são mais abandonadas ao amor e às coisas maiores do que ela. E são assim, porque são feitas melhores que nós, os homens.
         Deus, pensando na criação, pensou-a no feminino. Perceberam esse detalhe do Livro Sagrado?
         Não sem razão Maria de Nazaré é maior do que todos e todas, sendo exemplo para todos e todas!