Meu Recife e eu.

Fui desperta pelo barulho da vida intensa que acordava cedo. De imediato, fui conquistada pela dinamicidade que se fazia ouvir e sentir através dos freios dos antigos e garbosos ônibus-elétricos que circulavam durante todo o dia pelas ruas do Recife.

A manhã estava ensolarada, e os raios de sol emolduravam a janela que me possibilitava desfrutar de uma paisagem bucólica, cercada de árvores ao som do canto dos pássaros. Eu era apenas uma criança, mas naquela manhã havia descoberto que aquela cidade era a porta que me levaria para o mundo, já que eu sonhava alçar voos altos e longos.

O tempo passou e ali estava eu, não mais passando férias, mas agora, morando e fazendo planos de estudar, conhecer, desfrutar de toda aquela vida que eu via pulsar no corre-corre daquela cidade grande.

A cidade era outra, as pessoas eram outras, a vida era outra, mas eu era a mesma: sonhadora, impulsiva, ansiosa, totalmente bem intencionada, comunicativa, desembaraçada. Aí se deu o choque. A pessoa que eu era, não tinha muito a ver com as pessoas que eu cruzava por esses novos caminhos. Eu estava agora a constatar, que as pessoas da cidade grande, devido ao "corre-corre" diário, não tinham muito tempo disponível para um olhar, para o se dar. Quantos anos fiquei tentando em vão, chegar às pessoas. Por muito tempo fiquei a pensar que talvez o problema estivesse comigo, o que era de se esperar, já que me encontrava na adolescência.

Mas, apesar desses obstáculos, eu continuava a enxergar no Recife, a possibilidade de crescer, de conhecer o mundo, de evoluir como pessoa e intelectualmente. E não era difícil de concluir isto quando eu andava por aquelas ruas do Recife Antigo, e experimentava emoções ao pisar seus paralelepípedos e admirar seus casarios com eiras, beiras e tribeiras, e ficava a imaginar quantas histórias teriam sido vividas ali.

Atravessava suas pontes, e contemplava as águas e via no reflexo da luz do sol e também no reflexo da luz da lua, um convite para a vida, para o romance, para a aventura, para a paixão. Então naquele momento percebi que me apaixonara por esta cidade que primeiro me conquistou, segundo me amedrontou, me desafiou e por fim, me arrebatou.

Hoje sinto-me sua, e apesar de não ter nascido nela, posso sentir partes de mim em suas antigas ruas, principalmente quando desertas, pois é aí que me sinto encontrar comigo mesma. Sinto existirem partes de mim em suas histórias de luta, e é justamente quando mais me identifico com ela, ao perceber que ela assim como eu, lutou e luta até hoje, contra quedas e golpes que nos tentaram impor. Olho o Recife e me vejo em sua poesia, em sua música, em sua literatura, e agradeço pela herança deixada por recifenses ilustres como nosso Manoel Bandeira, que tanto nos encantou com seus versos, se inspirando em cada pedra, em cada lua, cada amanhecer desta cidade que encanta a todos que nela chegam e que se deixam levar por sua aura de grandeza, de nobreza, próprias de sua natureza superior, e que muitos invejam, tentam imitar e não percebem que a grandeza e a imponência que o Recife tem, estão no seu solo, no seu sol, nas suas águas, no seu povo e naqueles que se deixam capturar por sua magia, sua aristocracia natural, que ninguém, nem nada, jamais conseguirão deste lugar arrancar, e que hoje considero meu, assim é o meu Recife e eu.

Wanusa Pinto
Enviado por Wanusa Pinto em 08/03/2012
Reeditado em 01/04/2013
Código do texto: T3543490
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