Alta definição

Há alguns anos optei por manter a televisão desligada. Verdade que comprei um aparelho com imagem de alta definição, mas só o utilizava para assistir filmes em DVD. O noticiário da noite foi substituído pela leitura e outros passatempos. Os pesadelos desapareceram, a insônia diminuiu, a escrita aflorou... Continuei a ouvir sobre o lixo que há no mundo, afinal desgraça é de difícil reciclagem.

Mais de uma década de saudável e querida alienação decidi reativar o serviço de televisão por assinatura. Um dos canais favoritos continua transmitindo programas de entrevista. Pois bem! Não me lembro das aulas de genética, mas meu dedo indicador deve guardar resquícios do cromossoma YY (aquele que permite passar por vários canais em segundos). Um desses canais transmitia videoclipes de um músico por quem tenho paixão!... Não somente pela arte musical, mas pelo engajamento em questões ecológicas e humanitárias.

Com o controle remoto na mão me detive para ouvir o produtor do videoclipe falar sobre o trabalho do meu ídolo loiro, contar como era escolhida cada locação, o tema da coreografia em relação à música, etc. Mais videoclipes do lado de lá. Mais dança do lado de cá (sem abandonar jamais o controle remoto!). Assim prosseguiu aquele senhor desconhecido, cabeludo, com barba negra e aspecto selvagem, alternando videoclipe e entrevista. Falou do processo de composição de várias canções ali apresentadas. Fiquei intrigada. Será que ele falava das letras ou das melodias? Como era do meu vasto conhecimento de fã, meu ídolo era autor tanto das letras quanto das melodias de seu repertório...

De repente, aquele senhor de cabeleira negra disse ser autor de uma das músicas preferidas por mim: “Englishman in New York”. Coloquei os óculos de loba para enxergar melhor e eis que, no rosto selvagem, os olhos incrivelmente azuis do STING estavam lá na tela sorrindo para mim.

Pois não é que no mesmo dia em outro programa o meu ídolo nacional (que não direi o nome para não causar trauma a ninguém) apareceu no auditório do Serginho Groisman, mal podendo caminhar se atreveu a correr pelo auditório. Um barrigão, voz lá no fundo... Que péssima televisão eu assinei. Pelo sim, pelo não, antes de trocar o pacote de canais irei cobrir os espelhos aqui de casa.


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meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 11/03/2012
Reeditado em 25/03/2012
Código do texto: T3548381
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