Passando Roupa

A velha xícara, o velho banco e mais uma tarde. Ainda lembro daquela, onde apenas observava o céu; não teria mais nada para fazer a não ser olhar e descansar o corpo naquele quintal; não tinha um pomar, mas tinha os mais belos vasos de todo planeta, um campo do tamanho do mundo, um quintal do tamanho do meu coração. O lirismo herdado de meus antepassados não me deixa fugir e nem calar meus sentimentos; brigo e choro por dentro, mas sigo o caminho avesso deixado pelos meus sapatos; vou de encontro ao nada só para ter o prazer de voltar pelas pegadas da felicidade; ainda sinto o frio dos azulejos em minhas costas e a construção das estradas não possuem transito dos algarismos, tudo varrido para debaixo do tapete voador, tudo mesclado na falta de tintas e na extinção de pensamentos. Somos assim e veremos o fim do início inacabado no incesto coloquial. Nas frases feitas, não faço fita e nem se quer vivo com elas, sou um criador e não um plagia do cinismo arrecadado em eventos anuais, não vejo a criança com tanta esperança como nas cifras dos jornais; prefiro ajudar com os meus próprios punhos, bater em pedra e fazer sangrar o ódio da hipocrisia que toma conta de todos nós, água em cima do umbigo é sinal de perigo já dizia assim o velho sábio; somos inadequados para uma sociedade cheia de vícios e agressões, queremos o melhor, mas não passamos se quer pelas aprovações, jogamos as cartas, mas não sabemos em quais mãos. Na terra não há nada de novo, tudo continua mais complexo e materialista. A reza do final da noite foi trocada pela televisão, a meditação trocada pelo entretenimento visual; será que acharemos as saídas? Estou cansado de andar pelo vasto deserto do mundo, gosto do sabor do chá e de acenar um caloroso tchau a pessoa amada; pode até dar uma dor no peito, mas logo depois sabemos que o até breve passa num instante e que logo nos veremos dando adeus ao velho tchau. Minhas mãos estão congelando, já sou um nativo quando o assunto é climatização artificial; sou um perito em graus, adoro passar frio mesmo estando em João Pessoa. Com o passar do tempo tenho notado que o calor já não é mais meu clima favorito, não posso afirmar se é por falta do mesmo ou se realmente estou esfriando meus sentimentos, dizem que pessoas frias são pessoas azedas, que só criticam e não acreditam em esperança; chego a ficar com medo dessa história, não quero parar de acreditar que um dia viveremos em um lugar melhor sem tanta poluição e desmatamento; quero acreditar que viveremos sem escassez de nenhuma matéria prima, acreditar que não vou te filhos mutantes assim como os alimentos trangênicos; não quero um filho alterado geneticamente e nem quero escolher os padrões de beleza que a sociedade exige. Definitivamente não quero esfriar, desligo o ar condicionado abro a janela, preciso respirar um pouco, um abraço, por favor, apenas me ajude e não pergunte o por que.

R Davoglio
Enviado por R Davoglio em 22/01/2007
Código do texto: T355227