A história do Léxico

Léxico nunca teve sorte com mulheres. Pontualidade excessiva e segredos que nem mesmo eu sei norteavam a vida do pobre rapaz. Tinha uma vida bem regrada e seguia uma rotina impressionante. Em transações comerciais, não perdoava um centavo que fosse. Em lojas de 1,99, jamais aceitava balinha de troco: queria a moedinha. Tinha hora exata para tudo e não contava com imprevistos; o que planejava, procurava cumprir a todo custo. Levava tudo à risca: não tinha dessa de conotação.

Hábito que nos interessa é que , aos sábados, Léxico sempre comia coxinha no bar da rodoviária. E foi em uma dessas refeições semanais que conheceu Rapunzel, cabeleireira da cidade. Da parte dele, foi amor à primeira vista. Da parte dela, precisou olhar várias vezes para que o pretendente percebesse seu interesse: era vesga. O diálogo entre eles? Nem vale apena relatar: um desastre. A timidez de Léxico não deu muita abertura a Rapunzel, mas permitiu que marcassem um encontro. “No meu salão”, sugeriu ela, e ele aceitou. “Amanhã, às duas”, disse a cabeleireira. E, como se precisasse, acrescentou: “Em ponto, hein?”

No outro dia, lá foi Léxico ao encontro da bela (quem ama o feio, bonito lhe parece.) Saiu de casa exatos cinco minutos mais cedo do que havia previsto, pois sabia que sua timidez o faria andar mais vagarosamente do que já andava. Olhando para o chão e pensando no que diria, só levantou os olhos quando chegou ao seu destino. E melhor fosse não ter feito. Na parede do salão, embaixo de um toldo vermelho? rosa? marrom?, pôde ler uma placa, que anunciava em letras bastão: “CORTO CABELO E PINTO.” Léxico nem parou. Passou direto e foi embora. E nunca mais foi comer coxinha na rodoviária.

Antônio Carlos Policer
Enviado por Antônio Carlos Policer em 14/03/2012
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