Verônica

Verônica

Todos comemoraram e ela foi embora. A sala vazia era vista pela última vez. Mão na maçaneta e choro engasgado. A porta se fecha. Ela vai embora. O Sol parou por um momento. Uma nuvem cobriu o pátio. O dia ficou cinza. Abafado... Ela abaixou a cabeça. Deu uma respirada. Virou para o lado. Enfiou a mão na bolsa. Sacou seus óculos escuros. Sua emoção estava ocultada. Atravessou o corredor e ganhou a rua. Tinha de ser rápida. À noite seria de gala.

O auditório estava cheio. Os colegas trocavam gentilezas e ansiedade. As famílias aguardavam sentadas. Os amigos também. A equipe técnica testava os microfones. Uma última arrumada no arranjo de flores. Os lugares acertados. Os canudos sobre a mesa. Nervosismo. Ela não chega. Uma colega pede que alguém vá à portaria. Outra telefona em vão. Ela não atende a chamada. Paciência...

Estão todos sentados no lugar de honra. Levantam-se. A mesa é composta. A plateia também levanta. Uma freada. Ela desce do carro preto em seu vestido azul. O cabelo castanho cai suavemente sobre os ombros. Seu namorado lhe estende o braço. Chegou ao palco no momento exato da execução do Hino Nacional. A beca vestida às pressas parece-lhe um tanto quanto avantajada. Não é verdade. Estava muito confortável e leve em sua folga sob o tecido em muito merecido. O capelo caia-lhe como uma auréola.

Houve o discurso. Verdade era o que dizia. Seu olhar volta-se para os presentes. É simpática aos amigos. Para o seu futuro esposo tem um sorriso especial. À família, a satisfação. Aos colegas, a cumplicidade. À mesa, o respeito. A Deus a gratidão. Houve o juramento. Os capelos voaram e ela segurou firme seu diploma. Abraçou a todos. Ganhou um beijo do amor.

Despediu-se. Entrou novamente no carro. A noite estava linda. Em seu dedo havia um anel. O auto corre pela estrada. O vento vai levando a história. Há verdade nisso tudo. O auto corre. O auto para.

Ela desse do carro. Não está vestida de azul. Seu namorado não lhe dá o braço. Ela enfrenta uma escadaria. Seu pai a conduz na vermelhidão do tapete. Pompa e circunstância no ar. A noite voa. Ela voa junto.

Entre os canais a música é italiana. Bela sinfonia. Eles deslizam suaves sobre as águas. A gôndola vai calmamente entre palácios. A vida é bela! E a alegria vem constantemente lhe chamar.

— Mãe, eu te amo!

A alegria continua a lhe chamar.

— Vó, conta história!

A alegria e a responsabilidade sempre lhe chamaram.

— Senhora, a delegação da França lhe aguarda no salão nobre.

Ela diz a verdade. Na verdade se construiu. Na verdade cultivou amizades. Na verdade educou seus filhos. Na verdade amou seu marido. Na verdade engrandeceu a nação. Na verdade foi fiel a Deus. Ela verdadeiramente soube viver.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 15/03/2012
Código do texto: T3556015
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