DIA DE S. JOSÉ, CARPINTEIRO ARTESÃO

(19 de março)

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Hoje o tempo voa sem dar tempo para teceduras mentais que entrelacem os fios do passado. Os links do computador não são tecidos; são instantâneos.

O presente, num clique, deleta o passado. Não há, aí, tecelões tecendo a cultura. Cultura, hoje, é delivery, prêt-à-porter, fastfood. Sem liturgia, sem introito, sem consagração nem comunhão. A televisão substituiu o foyer pela lavagem de cérebro continuada. Noticiários a todo o momento, programas competitivos e de competição, novela após novela em capítulos encerrados sempre com um suspense de mil e uma noites. E depois da tempestade não vem a bonança; é a ambulância que, sirene tocando, transporta vítimas de estresse por entre veículos enfurecidos.

Prof. Rocha Lima sugere ir “registrando, à proporção que forem surgindo, em arrolamento caótico, as ideias brotadas do nosso esforço de meditação”. Numa espécie de “brainstorming”, tempestade cerebral. Ou numa espécie de terremoto mental instantâneo. Mas hoje em dia, é o próprio caos, e sem arrolamento. A não ser na hora de produzir peça por peça, que ainda é a vez do artesão, que trabalha olhando para as próprias mãos. Lembrando Fernando Pessoa, o braço, ei-lo, estandarte de Deus. As mãos são humanas, tão humanas. Tão mistério. Que estranho o haver gente, e mãos!

Sem menosprezo pela máquina, a felicidade ainda está em nossas mãos, ocupadas, não apenas em apertar botões e teclas, mas criativamente, à semelhança do músico, dedilhando, ou à semelhança do dedilhado do artesão. “Quando eu olho para as minhas mãos sinto-me feliz”, disse uma mulher rendeira. Não creio em fadas, mas que existem mãos de fadas, existem. Penso em quantos escritores, sem computador, caneta na mão, produziram tanto. Olé mulher rendeira, olá meu bom José, ensinai-me a olhar mais para as minhas mãos em busca de um “claro raio ordenador”. E a olhar mais para as mãos de Minas. E a levantar as mãos para o céu...

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 15/03/2012
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