Sou covarde!

Eu não sabia que era tão covarde, sei que sou sensível, chorona,mas  nunca fui medrosa nem covarde, sempre enfrentei a vida e os problemas de frente com os punhos prontos para o que desse e viesse.Para falar bem a verdade só tenho medo de uma coisa,não é de  ladrão, doença ou qualquer outro mal,é de lagartixa!
Entro em pânico quando vejo uma,pois até ela enfrentei outro dia quando uma entrou no meu carro, como não podia sair correndo dali,dei-lhe uma só “bolsada” (que deve pesar uns cinco quilos) com tanta força  que  na hora ela caiu dura,depois de chuta-la longe joguei a bolsa no lixo!Eu tremia como vara verde,  levei algum tempo para me recuperar!

Mas agora estou surpresa comigo mesma, juro que não tenho coragem...
Tenho um gato chamado Anjinho, ele é meu amor,foi jogado por cima do muro de minha casa, ainda bebê ,era época de Natal, daí seu nome.
Hoje esta com treze anos,muito carinhoso, sempre me acompanha dentro de casa junto com os cachorros.Onde  vou a “fileira” de bichinhos vai atrás.

Infelizmente, ele teve câncer, já foi operado quatro vezes, mas o bendito tumor sempre volta.A quimioterapia, não resolveu o problema.
Agora o tumor voltou mais agressivo, está nas suas costinhas , está deformado como se tivesse uma enorme corcunda,  tem um pouco de  dificuldade para andar.
O pobre bichinho não resistiria a mais uma cirurgia, não é possível fazer  mais nada a respeito da doença.

Agora se apossou de minha cama e de meu colo, e eu não tenho coragem de tira-lo de lá, mudei de cama,deixei o espaço para ele.Sua comida é especial,escolho com carinho, ele come um pouquinho...
Meu coração fica pequeno quando olho para ele, às vezes choro de tristeza ao ver meu gatinho naquele estado,ele me olha como se entendesse e estica o pescocinho para eu coçar...

Dizem que sou má, que estou deixando o animal sofrer, que deveria sacrificá-lo,acabar com seu sofrimento.
Mas cadê coragem?

Só de pensar em colocá-lo na caixa de transporte, e levá-lo para a morte, quase morro junto de desespero e tristeza!
O veterinário disse que enquanto ele estiver comendo é para deixá-lo ir vivendo, não deve estar sentindo dor senão pararia de comer, mas estou vendo a hora que ele vai parar...

Outro dia criei coragem, peguei a caixa e coloquei sobre a cama.
Ele me olhou, com aqueles olhinhos  muito verdes como se  soubesse da minha intenção, um olhar diferente,distante,como se eu fosse uma estranha. Foi o que bastou. Chorei de arrependimento, por ter tentado  leva-lo para ser sacrificado, o abracei e pedi perdão...Ele ronronou feliz.

Cada vez me convenço mais que os animais de tanto conviverem com os homens, os entende mais que os próprios homens, eles sabem o que pensamos.
Até quando eu vou aguentar acordar durante a noite para ver se ele está respirando?Até quando ele vai resistir?Não sei...
Mas uma coisa eu sei, minha covardia e amor por ele não tem tamanho!
 Só me resta esperar...
Ou criar coragem, o que duvido muito...



M.H.P.M.
P.S.Foto do Anjinho.