Quando a fila parece Torturante

Estar em filas parece ser algo já incorporado a nossa cultura, basta vermos alguma aglomeração, que nos surge como num instinto o anseio de ver o que é ou apenas dar uma olhada.

Estar nestas nunca foi um agrado a mim, mas fazer o que, com toda a burocracia que existe em tudo o que realizamos fica difícil evita-la. Desde a mais simples fila de banco, ao mais luxuoso restaurante, tudo se baseia no sistema de filas.

Não sou contra as filas, acho que até estas se fazem necessárias minha contrariedade são aos “furões”, não aqueles animaizinhos, mustelídeos domesticáveis comprados nos pet shops, mas sim as pessoas que furam as filas. De um simples “oi”, ao mais largo “como vai”, existe sempre uma intenção implícita neste meio, e é como em um contato telepático, os dois, ou seja, os que furão, e o que deixa furar parecem combinar sistematicamente a ação.

Estava na fila do teatro, o público parecia afoito, aguardando a abertura das portas para adentrarmos ao grande salão onde se passaria o espetáculo. Aguardávamos em uma sala, com comes e bebes, para distrair-nos até que os ingressos na bilheteria cessassem.

A bilheteria fechou e as portas que davam acesso ao teatro, aquela confusão começou, sentia-me na 25 de março em época de natal, aquele fuzuê pessoas de um lado para o outro, o pior é que esses do teatro ainda se dizem civilizados.

A fila se formou, eu como sempre, fui levado para último, não posso dizer que fui por livre e espontânea vontade já que fui meio que empurrado para aquele local.

Ao fundo da sala, um senhor quarentão, de barba e bigode, parecendo não se dar conta de que o espetáculo ia começar. O homem ficava a olhar a fila com a seguinte indagação “Eu em filas, jamais”. Supus que civilizadamente o cavalheiro aguardaria o cessar do tumulto e entraria, já que os lugares estavam demarcados. Engano meu.

O homem foi até o início e voltou identificando face a face de cada membro daquela ordem. Tirou o celular do bolso, discou alguns números:

- Você aqui! Que surpresa...- dizia parecendo não saber da presença do amigo no local

Passando alguns minutos, seguiu ao local onde o colega se localizava. Bastaram alguns “ois” e “ como vais?”, e pronto, ele já se infiltrara na fila. Olhar para trás de maneira alguma, os membros que aguardavam sua vez , vociferavam de tanta raiva do furão.

Muitas vezes nos dizemos muito educados, e acabamos furando as filas. Quem não? Ao final, nos sentimos bem, por termos tirado vantagem sobre os outros que ficaram a aguardar. Em outros países como suíça, Dinamarca e Suécia, parece natural não furar ou cometer atos ilícitos. Não digo que somos inferiores ou superiores a eles, apenas acredito que as vezes deixamos a educação dada por nossas mãe na infância, trancafiada em casa.

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 17/03/2012
Reeditado em 17/03/2012
Código do texto: T3559736
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