"VOZES FEMININAS" NA POESIA BRASILEIRA

Assim escreveu J. G. de Araújo Jorge: “Para o observador desavisado, a impressão é a de que, no Brasil de nossos dias, apenas um nome de mulher se impõe entre os grandes poetas: o de Cecília Meireles. A crítica brasileira tem esquecido injustamente muitos valores expressivos da nossa poesia feminina”.

Crítica, digo eu, em sua maior parte formada pela opinião masculina, (pra não dizer machista), refere-se com menos entusiasmo a Francisca Júlia, apenas citando-a como a única mulher entre os poetas parnasianos. Assim também Alfredo Bosi, em sua História Concisa da Literatura Brasileira, aludindo à tríade parnasiana formada por Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira, menciona a sonetista entre “outros poetas”.

O “poeta do povo e da mocidade” fez louvável justiça. Em comentário à terceira edição de “ Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou”, volume I, poesia brasileira, contendo mais de quatrocentos sonetos de todos os tempos e escolas, destaca peças líricas de maior beleza e emoção, assinadas por nossas poetisas. A essa aprovação a que chamou de “Vozes Femininas”, em crônica do mesmo nome, figuram Amélia Tomás, Ana Amélia, Beatrix dos Reis Carvalho, Benedita de Melo, Carmem Cinira, Colombina (Ilde Schloembach), Corina Rebuá, Cíntia Castelo Branco, Francisca Júlia, Heli Menegali, Gilka Machado, Henriqueta Lisboa, Ilka Sanches, Itacy de Souza Teles, Lilinha Fernandes, Maria Eugênia Celso, Maria José Giglio, Maria José Aranha de Resende, Maria Sabina, Maria Tereza de Andrade Cunha, Nísia Nóbrega, Seleneh de Medeiros, Vivência Jambo da Costa e Vicentina de Carvalho.

 
Duas vozes não cantam nesse coro de J. G. de Araújo Jorge: Cora Coralina, obviamente por não ser sonetista; e Auta de Souza, esta não sei por qual razão, mas aqui particularmente rendo-lhe homenagem.

ESTRADA A FORA

Ela passou por mim toda de preto,
Pela mão conduzindo uma criança...
E eu cuidei ver ali uma esperança
E uma Saudade em pálido dueto.

Pois, quando a perda de um sagrado afeto
De lastimar esta mulher não cansa,
N'uma alegria descuidosa e mansa,
Passa a criança, o beija-flor inquieto.


 
Também na Vida o gozo e a desventura
Caminham sempre unidos, de mãos dadas,
E o berço, às vezes, leva à sepultura...

No coração, - um horto de martírios! -
Brotam sem fim as ilusões douradas,
Como nas campas desabrocham lírios.

Auta de Souza

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Não me referi às poetisas contemporâneas, nem mesmo às minhas favoritas. E o fiz de propósito para não incorrer em injustiças e promover polêmicas que as listas desse gênero têm causado. Especialmente se eu relacionasse as do Recanto das Letras, que não são poucas com notável talento.  Se algumas constassem da minha suposta lista, seriam apenas as da minha preferência, sem qualquer ordem classificatória.

24/03/2012
21h47
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AUTA DE SOUZA
VIDA
 
Nasceu em Macaíba (RN), em 12 de setembro de 1876, filha de Eloy Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina de Souza e irmã de dois políticos e intelectuais, Henrique Castriciano e Eloy de Souza. Aos 14 anos apareceram os primeiros sinais da tuberculose, obrigando-a a abandonar os estudos e a iniciar uma longa viagem pelo interior em busca de cura.

Auta de Souza deve ser considerada a poetisa norte-rio-grandense que mais ficou conhecida fora do Estado. Sua poesia, de um romantismo ultrapassado e com leves traços simbolistas, circulou nas rodas literárias do país despertando sempre muita emoção e interesse, e foi fartamente incluída nas antologias e manuais de poesia das primeiras décadas. Como a maioria dos escritos femininos, sua obra poética deixou-se contaminar pelas experiências vividas, o que, aliás, não compromete o lirismo e o valor estético de seus versos.

Aos 24 anos, no dia 7 de fevereiro de 1901, Auta de Souza morria tuberculosa. No ano anterior havia publicado seu único livro de poemas sob o título de Horto, com prefácio de Olavo Bilac, que obteve significativa repercussão na crítica nacional. Em 1910 saía a segunda edição, em Paris, e, em 1936, a terceira, no Rio de janeiro, com prefácio de Alceu de Amoroso Lima.

Antes de serem reunidos em O Horto, parte de seus poemas foram publicados em jornais como A Gazetinha, de Recife, O País, do Rio de Janeiro, e A República, A Tribuna, o Oito de Setembro, de Natal, e nas revistas Oásis e Revista do Rio Grande do Norte. Os poucos poemas inéditos que deixou foram recolhidos e publicados nas edições seguintes de o Horto.

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Referência:  Crônicas de J. G. de Araújo Jorge, extraída do livro "No Mundo da Poesia".
Site J. G. de Araújo Jorge - Biblioteca Poética.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 18/03/2012
Reeditado em 24/02/2013
Código do texto: T3561227
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